Uma Vida de Circo XVIII

A escola

As crianças foram ficando em idade escolar.

- É hora de mudarmos para o arraial, disse o fazendeiro. As crianças precisam estudar.

O fazendeiro comprou uma casa e nos mudamos. Foram tempos difíceis para mim. já não tinha saúde. As contrariedades tinham acabado com ela.

Para as crianças vieram os sarampos, as coqueluches, as cataporas etc.

O tempo não apagou o preconceito que tinham com aquela ex-artista de circo.

Certa vez, o fazendeiro disse-me:

- Vamos visitar os parentes.

Eu respondi:

- Eu não vou, porque eles não gostam de mim.

- Quem manda aqui sou eu! Ordenou-me.

- Tudo bem, vamos lá.

Estavam na sala parentes, amigos e compadres, todos proseando.

Na hora de servir o café, a dona da casa chegou a bandeja perto de todos, menos de mim. Para ela, eu não existia por ter sido de circo.

Não dava pra entender tanto preconceito. Atitudes como esta eram rotineiras. Parece banal, mas doía. Eu que pensei em sair do circo para encontrar carinho, afeto, amor e proteção, sentia-me totalmente desamparada. A vida que eu estava levando era tão contra o meu gosto que eu tinha a impressão de estar sonhando e a qualquer momento ia acordar no meu circo.

Como a vida nos prepara armadilhas e nos prega peças, mas a realidade não era um sonho. Eu tinha que me conformar e não pensar só em mim e sim naquelas crianças que iam crescendo lindas e viçosas como as flores.

Mas o pior ainda estava por vir. Deus estava testando as minhas forças.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 23/12/2007
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