Uma Vida de Circo XVII
Meus filhos, minha vida
Quando descobri que estava grávida, foi o céu para mim. Já não estava mais sozinha. Aquela descoberta me fez nascer novamente. Voltei a sorrir, a cantar e até a achar que aquela fazenda não era tão ruim assim.
Com o passar dos meses, chegou uma linda menina em pleno carnaval e era como a grande chegada da primavera, depois de um longo inverno.
O fazendeiro ficou contente e orgulhoso. Fez uma grande festa de batizado. Aquela linda criança recebeu o nome de Sônia Maria. Encheu a casa de alegria.
Dali a algum tempo, foram chegando outros filhos: Celso, Antônio Carlos, Terezinha Aparecida, Vera Lúcia, Marisa e Luiz Alberto.
A casa já estava cheia de crianças. Não tinha mais solidão. Elas ocupavam todos os espaços. Eu passei a viver só para elas e me anulei totalmente. O circo já era apenas uma lembrança. Foi ficando para trás. Aquela artista agora era uma conformada dona de casa, mãe de família.
Isto foi na década dos anos cinqüenta. O fazendeiro peão de boiadeiro continuava com suas andanças. A chegada dos filhos não mudou em nada o seu comportamento. Sempre tinha uma desculpa para dormir fora de casa. Eu não tomava conhecimento de sua vida, tinha meus filhos e isto me bastava. Eu buscava forças para continuar na esperança e na fé em Deus, pois sempre depois de uma noite escura, existe um belo amanhecer.
(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)