Que saudade é essa?

Estou sentado no meu quarto de frente para a tela do computador. Ao meu lado direito um ventilador sujo, à minha esquerda vejo uma casa, um prédio e uma mangueira cheia de mangas. O sol enaltece o verde e o amarelo das folhas e o vento sopra tímido. Está quente apesar de ser fim de tarde. Diante deste cenário, reflito sobre a saudade.

Sinto saudade de escrever. Há tempos não escrevo de fato, com vontade, com a minha alma, com o meu desejo profundo de ser escritor. Sempre quis ser escritor, nunca quis ser poeta. Sinto saudade de escrever pensamentos, crônicas, prosas... mas, até minhas prosas são poéticas. Ando tão cansado de emoções em rimas, em versos com métricas, em linhas que dançam tão bem com a sonoridade.

Ando com saudade do meu amor. A mulher que amo há oito anos e que nem sempre soube amar direito. Agora ela está ocupada. Sinto saudade dos nossos momentos juntos, dos nossos sorrisos e da nossa leveza. Sinto saudade de abraçá-la e do seu carinho. Sinto saudade das brincadeiras e momentos íntimos e quentes. Nós estamos sendo arrastados pelo cotidiano, pelo dia-a-dia perturbador de nossas vidas. Trabalho, universidade, estágio, boletos, responsabilidades em casa, atenção para nossos familiares, amigos, e para cada um de nós individualmente. Sinto falta de namorar, mas também compreendo que é apenas uma fase e que amor não enche barriga. É preciso ser firme. É preciso continuar cuidando do amor apesar do tempo curto, apesar da rotina exaustiva e das nossas ausências.

Sinto saudade da quietude, da minha infância e da paz que há tempos não tenho. Sinto saudade dos meus amigos que mal vejo e das nossas aventuras. É triste adultecer. Tem tanto da vida que vai se esvaindo, se perdendo, se desbotando. Minha criança interna chora, minha alma derrama rios de lágrimas. Hoje sou assistente social, mestrando, poeta, ativista cultural, mas sinto saudade de não ter tantas responsabilidades, de não ser tão importante.

Saudade, esse clichê sem tradução em outras línguas, que invade meu peito, que transborda em meus olhos. Sinto saudade até do amanhã que sequer chegou. É saudade demais para uma só pessoa. Queria não sentir saudade, mas creio que sentiria saudade de ter saudade se por acaso ela se fosse.