— Vai lá nêm...
Meus pais sempre me mandavam comprar pão, manteiga, mortadela, açúcar e um monte de outras coisas. A sequência era mais ou menos assim:
— Reginete compra ali pão para a merenda. E ela dizia mais ou menos assim
— Vai lá Geser. E ele dizia:
— Vai lá nêm...
Nêm era o apelido que ele sempre colocou em mim e era o único que me chamava assim depois que completei meus 11 anos, sempre me chamou e nunca parou.
Já que Não tinha ninguém para eu mandar ir, eu ia batendo o pé de raiva, mas antes de ir sempre dizia algo como: sempre eu... sempre eu... E o pai balançava a cabeça como quem diz "Esses meninos…"
O pai falava que era para comprar pão e mortadela e me entregava o dinheiro. Uma nota de dois e três moedas de um real, era sempre assim com o dinheiro contado.
Eu saia de casa batendo o pé feito soldadinho e com a cara de bolacha, zangada faltava só pegar fogo. Chegava na bodega e logo esquecia o que tinha ido comprar e até lembrar a mulher chegava para me atender. Tinha um sino onde eu a chamava. Pedia os pães e a mortadela e ia de volta para casa. A mortadela era daquelas pequenas vermelhas que dava somente para um almoço e era muito gostosa quando o pai fazia frita com cebola-branca. Eu adorava.
Os meus dias eram assim, acordava e ia me ajeitar, lavava a louça do dia anterior e o pai pedia para comprar coisa. Mas era naquela base, um por um, até chegar em mim e eu sair bufando de raiva feito soldadinho pegando fumaça, já que não tinha jeito e tinha que ser eu.
— Reginete compra ali pão para a merenda. E ela dizia mais ou menos assim
— Vai lá Geser. E ele dizia:
— Vai lá nêm...
E assim eram todos os meus dias...