Passagem pela vida. ( Para ALC - Academia de letras de Carazinho - RS)
Embarcamos, se estou bem lembrado, no mês de fevereiro de 1978.
Foi uma viagem - para os padrões que me balizavam na época - longa e demorada.
No caminho alguns dormiam, outros conversavam e outros tentavam apreciar as belezas naturais do trecho.
A vontade era de curtir cada metro do caminho e cada segundo da bagunça com os amigos e amigas, afinal seria o último momento daquela turma juntos.
À medida que o tempo ia passando, naturalmente, o cansaço aumentava.
O ônibus ia ficando silencioso, os ânimos iam aniquilando e – deduzo - olhos iam se fechando.
Eu olhava pela janela, mesmo à noite. Quase nada era visível exceto quando nos aproximávamos de alguns vilarejos ou cidades do caminho.
O sistema de som do veículo, ininterrupto e com variedade limitada, repetia as mesmas músicas de uma única magnética: a velha fita cassete! Como não dormi, aproveitei para decorar algumas delas. Desconfio, em certas horas, que este foi o nascedouro do meu gosto poético.
Éramos em torno de trinta alunos recém formados na oitava série da Escola Veiga Cabral de Pinheiro Marcado e, fazíamos a viagem a Foz do Iguaçu bancada, quase na totalidade, por recursos vindos dos eventos que tínhamos promovido junto à comunidade no decorrer do ano anterior.
Creio que era uma tradição da escola nos anos setenta.
Já no destino tive experiência inéditas. Primeira vez que fiquei em hotel, primeira vez fora do estado e até fora do país na curta passagem pela cidade fronteiriça do Paraguai para algumas compras bastante limitadas, mas uma experiência única e que criou em mim o gosto pelas viagens.
Plagiando Neil Armstrong, posso dizer que foi um pequeno passo para mim mas um gigantesco salto para o meu futuro.
Uma passagens que podia soar sem importância num primeiro momento foi um grande impulso sequência da minha vida ida.
Como disse Valentim, personagem de “A Bagaceira” , de José Américo de Almeida: “ O que tem que acontecer tem muita força”.
Não muito nítido, mas há um fenômeno que acontece no rio Jacuí Mirim; o rio da minha infância, e em todo o mundo: a piracema..
Os peixes nadam contra a corrente para a desova rio acima. Um exemplo de força, determinação e coragem que a natureza oferece para nós, humanos.
Mais tarde a minha vida profissional me propiciou oportunidades de conhecer muitas cidades, alguns estados e mais um ou dois países.
Anualmente, por duas décadas, tínhamos convenções de vendas em locais variados do Brasil.
Em uma delas, na ilha de Itaparica na Bahia recebi o troféu de vendedor do ano. Foi um momento inesquecível e muito divertido.
Estes encontros eram uma mescla de trabalho e descontração em que se buscavam ferramentas profissionais, mas também vivências pessoais enriquecedoras.
No ano 2000 conquistei, como prêmio , uma viagem para a Disney Word com direto a levar a minha esposa. Antes disso uma semana em Gramado com a família. Algo muito marcante e comemorado.
Em Orlando, encontramos, naturalmente, gente de todas as partes do mundo.
Sempre que possível tentávamos nos entrosar com pessoas de outros países buscando saber um pouco de seus hábitos e culturas.
Ali a gente vivia uma espécie de sonho suportando a saudade de casa que era bem forte.
Levamos apenas o essencial, pois tínhamos bastante limitações financeiras. Nos passeios levávamos, na mochila, água comprada no supermercado que era bem mais em conta.
Andávamos tanto que formávamos bolha nos pés, mas isso parecia tão insignificante diante de tantas atrações encantadoras.
Nossa ansiedade em voltar era tão somente para reencontrar os filhos, ainda bebes pois, sentíamos muita falta.
Pousamos em Porto Alegre, duas semanas depois, ao amanhecer de uma sexta-feira. Descobrimos, nestes poucos dias, que não há nada mais importante e animador do que estarmos juntos dos que amamos.
Nunca mais saímos para viagens longas sem levá-los conosco e, se isso não era possível, não íamos, pois para mim a família que eu estava formando me devolvia o conceito de família em sua plenitude.
Quando lembro destas experiências faço um paralelo nas minhas recordações e entendo que cada etapa propicia descobertas e possibilita um considerável aprendizado.
Foi melhor a primeira viagem partindo de Pinheiro Marcado com os colegas de turma ou a última para o exterior com a esposa?
Não se pode comparar situações diferentes, mas se fosse tentar uma resposta eu diria que a minha viagem perfeita partiu sim de Pinheiro Marcado para construir minha profissão e mais do que isso; para construir a minha família.
A vida nos transporta e nesta viagem vamos edificando nossos sonhos e ela espera de nós um legado de afeto, carinho, amor e humanidade para com todos, inclusive para as gerações futuras.
Nos resta torcer que todos possam, em algum momento, iniciar uma linda viagem chamada vida profissional e que seja de primeira classe em empatia, amor e histórias para contar.
Boa viagem a todos!