FELICIDADE ONDE MORAS?
O que é ser feliz? Olha que essa pergunta gira por aí. Acho que passou por todas as cabeças e já trinou feito canto de rouxinol por todas as bocas, pois todo ser humano existente na terra procura por essa dama caprichosa chamada felicidade.
Onde ela mora afinal? Quais são os seus caprichos? Por que foge da gente muitas vezes? Tal qual areia fina foge nos dedos ela escapa. Está onde não alcançamos. E teima em não estar onde estamos.
Vejamos aqui suas jogadas e suas manhas.
Pessoas dizem: Se eu ficar rico, tiver muito dinheiro vou ser feliz. Então nos surpreendemos ao observar que milionários se enchem de remédio tarja preta, têm depressão, E pasmem, aqueles que deveriam obrigatoriamente ser feliz porque têm dinheiro, luxo e riqueza cometem até suicídio. Desistem de viver.
Então não está aí a tal da felicidade?
Outros dizem:
Se eu tiver saúde, então serei feliz. Mas quantas pessoas existem, que gozando do mais pleno bem estar físico, encontram-se mergulhados em tristeza? E doentes graves bem mais felizes que os saudáveis.
Também não é na saúde, tão somente na saúde, que ela mora?
Seu tiver um emprego tudo está resolvido. Mas empregados reclamam do baixo salário. Da rotina e da dureza do serviço.
Quando você se casar será feliz. Pois todo mundo deve ter uma companhia, construir um lar, formar família. E quantas e quantas famílias vivem na infelicidade, na discórdia, nas brigas e agressões?
Será que basta ter uma família?
Quando o casal tiver filho, então as brigas acabam e a felicidade chega. Mas com os filhos vêm problemas. E quantos e quantos pais sofrem desgostos com seus rebentos, promessa frustrada de felicidade. Briga entre pais e filhos, fonte segura de infelicidade.
Então pensando bem, o bom mesmo é não casar. Viver só, ser livre, independente. É aqui que a danada mora. Mas não querendo estragar o prazer de ninguém, conheço pessoas que reclamam da solidão, sentem-se deprimidas por estar só e afirmam que a tal dama tão procurada não mora por aí.
E tem também a ilusão do quando. A felicidade adora brincar com a ilusão do quando:
Quando arrumar minha casa, vou ser feliz, porque é impossível alguém ser feliz em casa velha e estragada. Arrumou a casa, zas a dona felicidade vem. Arruma-se a casa, fica-se feliz por algum tempo, depois se descobre que existe infelicidades, tristezas e problemas, também na casa nova. As paredes pintadas não eram blindadas contras as coisas ruins e os problemas.
Lembrei-me agora daquele programa humorístico que prometia o regozijo ao adquirir determinado produto. Todos os seus problemas acabaram. Então quanto comprar o carro novo todos os problemas serão guardados no porta-malas. O carro novo vem, e fica velho. O problema para todo o sempre resolvido, assim como o sentimento alado, morto e amordaçado da canção do Fagner, volta a incomodar. O porta-malas explode e lança de novo os problemas pelos ares. Não estava no carro novo.
Ah quando a minha querida prima chegar! Mas a prima vera chega, transmuta-se no escaldante verão, no indeciso outono e de novo traz os rigores do inverno. A prima não estava com essa bola toda.
Quando chover... molha...
Quando o sol renascer... queima...
Quando eu me aposentar com certeza...
E a tudo eu digo Será?
Eu sou uma pessoa tímida e introvertida tenho uma enorme dificuldade em me relacionar com as pessoas. Mas eu tinha um modelo. E dizia: “se um dia eu for igual àquela pessoa, estarei bem. O dito cujo é seguro, dono de si, bonitão, inteiro, de bem com a vida e tudo de bom. Então posso concluir que encontrei meu espelho. Não tem dúvida, ser igual a ele é ser feliz. Um ser humano completo. Tem boa condição financeira, saúde, é auto confiante se relaciona bem... É um ser de sucesso. Não tenho nenhuma dúvida, ser feliz é ser aquela pessoa.”
E não é que certo dia a tal pessoa confidenciou-me que passava por um momento de depressão e que se sentia um lixo?
E então? O que dizer?
Muitas vezes associamos felicidade a prazer. E temos a ilusão de que a saciedade das nossas fomes e anseios é a certeza do seu abraço eterno.
A guloseima, objeto de prazer, tentação que nos conduz ao feio pecado da gula, metaboliza-se na angústia do “acabou, que pena” ou do mal estar estomacal.
O prazer do sexo se vai, e é impossível estender o êxtase a mais que alguns bons momentos.
Muitos veem naquela garrafa salvadora, mágica a receita perfeita para afogar as mágoas, mas qual é a surpresa ao perceber que as diabinhas sabem nadar, mergulham e logo vem à tona, sorridente e zombando de quem acreditou em sua derrota. Parecem até mais fortes após os exercícios de natação
Se crês em dinossauros cor de rosa voando agora sobre nossas cabeças, também crerás que neste momento nas praias paradisíacas do mundo tristeza alguma ronda. Nenhuma ruguinha de preocupação adorna os rostos fascinados com a beleza do ambiente. Apenas sorrisos profundos e sinceros combinando com a paisagem bela. E crerás também que nenhuma tensão viaja nas Mercedes e nas Ferraris, ou consegue alcançar o interior dos luxuosos jatinhos que dividem os céus com os dinossauros. Com certeza estresse algum povoa a mente de nenhum grande investidor da bolsa de valores. Ali existe apenas a alegria da acumulação. Não existem lagrimas na Disney. Filho é promessa, família é certeza. Está no prato, no copo, na mesa. Somente em festa se ri, apenas em velório se chora. E se ele é tão saudável, derrota alguma pode entristecer o atleta. Ah esses dinossauros que não param de voar.
E quando achamos que ela se foi de vez, volta do nada. E salta feito infante grimpante numa alegre manhã de sol. É o trinado harmônico de um belo passarinho verde cantando uma alegre cantiga sobre jardins floridos . Menina atrevida de sorriso largo, deslizando num comprido tubo agua ou pulando na maciez de nuvens do algodão. Do nada ela vem, e nos faz fantoches, mamolengos guiados pelos fios do bom humor. E eis que os problemas de ontem motivos de tantos despropósitos, são nadas no hoje . Ontem eram eles gigantes, hoje formiguinhas insignificantes. Porque a felicidade vem quando quer sem perguntar e sem nada a declarar.
E a dama caprichosas, se esconde por entre véus e mortalhas, se esgueira enquanto a perseguimos por intricados labirintos e zombeteira ri de todos nós e dos nossos conceitos. Da nossa doce ilusão de um dia a agarrarmos e tê-la em nossos braços para todo o sempre
Eu também a caço por aí. Eu como todos, também bato de porta em porta procurando-a, tentando cair nos agrados e ganhar os seus carinhos. Ela também foge de mim, como foge de todos. Talvez quem sabe, a própria procura seja uma forma de encontrá-la.
Acredito que ela esteja na maneira de ver as coisas. Quando valorizamos a vida. Quando pousamos sobre o nosso existir um olhar de ternura, afago e agradecimento, sem regras, nem méritos, nem nada, olhamos para o nosso interior e ali a encontramos, apenas abrimos a ela nossos braços, então a madame tão procurada se mostra sem máscaras e com um largo sorriso.
Talvez dando mais valor ao presente, ao que temos, ao que construímos. E aos pequenos momentos do viver.
Nas minhas divagações vou além e penso até que podemos determinar onde ela está. Ela está onde quisermos que ela esteja. É nossa escrava. Se eu disser, está aqui, aqui ela estará. Sou o amo que achou a garrafa da gênia e posso mandar em suas atitudes.
A felicidade da gente é a gente que determina? Clichê puro e verdadeiro?
Nunca está fora? Está sempre aqui dentro? Talvez sim. Porque do lado de dentro fica bem mais difícil dela fugir.
Acredito que conforto material, saúde, bom relacionamento famíliar, prazeres, realizações e lutas do dia a dia contribuem para que ela aqui esteja, porém não são por si só garantia da sua presença.
De dentro pra fora talvez... Na maneira de enxergar coisas...
E a procura continua. Até o último respirar. Quero-a comigo de braços dados no caminho até esse momento chegar. E quando eu chegar ao último respirar serei feliz?
Hoje de manhã eu pensava: quando terminar essa crônica...e agora?