Uma Vida de Circo XI

A força do dinheiro

Seguimos para uma temporada em Divinópolis. Armou-se o Circo Oliveira na Praça da Estação. Depois de alguns dias fomos para Nova Serrana e depois para Pompéu.

Uma noite, depois do último espetáculo, estávamos jantando, quando o secretário do circo deu a notícia:

- Vamos voltar para São Gonçalo do Pará. Acabo de vender dez apresentações naquela Praça.

Posteriormente, vim a saber que o comprador dos espetáculos era o fazendeiro peão de boiadeiro. Fomos nós de volta para aquele arraial e alugamos casa para aquela temporada.

Desta vez estávamos também com um Parque de Diversões armado no Largo do Jatobá, com números variados. Eu representava minhas canções e números de deslocação. Tinha uma barraca de maçãs que era muito movimentada, não sei se pelas maçãs ou por minha causa.

Uma tarde, eu estava na janela e ouvi um som muito bonito. Olhei e vi uma grande boiada e à frente da comitiva, um cavaleiro tocando berrante. Ao chegar mais perto, reconheci o fazendeiro peão de boiadeiro, montado num belo cavalo que tocava o berrante. Ele tirou o chapéu e me cumprimentou. Isto aconteceu várias vezes.

O que me encantava naquele peão era o seu porte moreno, alto, bonito e o seu jeito de vestir. Usava sempre botas com esporas, jaqueta de couro, lenço no pescoço, chapéu de abas largas e revólver na cintura. Era um verdadeiro cowboy de virar a cabeça de qualquer mulher. Eu disse para minha mãe:

- Este peão é mesmo uma tentação.

Numa segunda-feira, recebi a visita do peão de boiadeiro de nome Antônio Nogueira.

Ele quis falar com minha mãe, pedindo o consentimento para casar comigo.

Minha mãe, uma portuguesa muito franca, foi logo dizendo:

- Não aprovo de jeito nenhum. Você é um homem rico e poderoso. Minha filha é uma menina pobre e é o meu ganha-pão. Sem ela, o circo vai para o buraco. Outra coisa, vocês pouco se conhecem. Mas se ela quiser, eu não vou impedir.

Ele disse:

- Pergunta, então pra ela!

Minha mãe, com seu jeito ríspido de falar, perguntou-me:

- Você quer se casar com este homem?

Dirigi-me a ele:

- Casar com você, de papel passado e tudo?

Ele respondeu:

- Tudo!

Olhando em seus olhos, falei:

- Quero três dias para dar a resposta.

Ele concordou:

- Combinado.

Despediu-se e foi-se embora.

Era um homem de pouca conversa. Só falava em negócios. Começou para mim a tortura da incerteza.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 17/12/2007
Reeditado em 17/12/2007
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