Uma Vida de Circo IX
O professor
O Diretor do circo era um homem correto e bom. Como muitos artistas eram analfabetos, ele contratou um professor que fosse livre e pudesse com eles viajar. Chamava-se Sebastião Policarpo da Silva, professor de Matemática de Belo Horizonte. Era aposentado e viu no circo uma maneira de preencher sua vida. Começaram as aulas.
Maria, minha mãe, uma viúva nova, também fez parte do grupo de alunos. E, de lição em lição, o professor ensinava com paciência a cartilha do b a ba.
O professor Sebastião enamorou-se de Maria e o casamento aconteceu numa tarde de sábado, no picadeiro do circo. Ganhei um pai novamente. Com o tempo, ele foi-se entrosando no circo e como tinha conhecimento em canto e dança, transformou-se num ator.
Certo dia, na falta de um palhaço, ele o substituiu, com sucesso, e tornou-se o Palhaço Cangalha. Foi o segundo palhaço de minha vida. Este era bom e educado e muito me ensinou.
E assim foi-se passando,
ora rindo, ora chorando,
E fui perambulando pelo mundo
sem ter pátria, nem lar,
para consolar
a dor que doía fundo.
(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - Aparecida Nogueira)