O MAIOR SÃO JOÃO DE MÚSICA RUIM
Hoje, dia 01 de junho de 2023, inicia-se no Parque do Povo, aqui em Campina Grande, PB, a grande festa local denominada O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO. Na verdade, o maior encontro de cantores ruins da atualidade e suas necroses musicais, “músicas" de gosto um tanto duvidoso e que contrapõem boa parte da nossa musicalidade regional, atropelando o nosso forró tradicional e, por tabela, os verdadeiros artistas da Terra ainda em evidência. Artistas com conteúdo e potencial, vamos combinar, do naipe de Alcimar Monteiro, Flávio José, Os Três do Nordeste, e tantos outros.
Durante todo o mês de junho o que podemos ver e ouvir nos palcos principais da festa é um desfile de sonoridades horríveis e absurdamente pobres, algo que só agrada mesmo aqueles ouvintes menos exigentes, “músicas” que vão desde o forró lixo eletrônico à fraca música sertaneja dos dias de hoje, por sinal, intitulada de “sertanejo universitário”. Chega a ser irônico isso. Passando ainda por um tal de “piseiro”, “arrocha”, “bregadeira funk” e todo azar de sonoridade ruim que se possa imaginar. Além de não fazerem parte do contexto da festa, não contemplam absolutamente nada sobre as raízes, os costumes e a cultura sertaneja da nossa região.
“Ah, mas gosto não se discute!”
Realmente. Hoje em dia só podemos apenas lamentar, já que tudo agora esbarra na questão da discriminação e do preconceito. Embora saibamos que o fator gosto, antes de ser meramente subjetivo, tem uma relação direta com o conhecimento, com a bagagem cultural e individual de cada pessoa, uma vez que a música que ouvimos é o espelho, o reflexo da cultura e do conhecimento de mundo de cada indivíduo. Não dá pra ser eclético ouvindo música clássica e funk, por exemplo, onde sabemos, de antemão, que existem vários anos luz de distância cultural entre os universos de quem ouve Bethoven e Anitta funkeira. É o mesmo que comparar Jesus Cristo com mané buchudo, vai por aí.
O fato é que, preconceitos e pontos de vista diferentes à parte, o Parque do Povo vem apresentando nesses últimos anos, durante trinta dias consecutivos, uma festa que foge completamente aos padrões juninos até então conhecidos. Mas, principalmente, no que se refere à qualidade musical proporcionada, contratada a peso de ouro. Uma festa onde nossos artistas, pratas da casa, não têm voz e nem vez diante das atrações nacionais convidadas, em especial, cantores sertanejos do momento que vêm para Campina Grande ao custo de altos cachês, mostrando uma “música” apenas comercial, descartável e efêmera, que nada acrescenta e não tem muito a ver com o evento apresentado. Cantores como Elba Ramalho e até mesmo Fagner, são exceções. Pois, além do fato de serem artistas nordestinos, trazem consigo e em sua musicalidade muito das nossas raízes. Mas o que será que Alok e o Padre Fábio de Melo, por exemplo, têm a ver com o cenário dessa festa?
Reza a lenda, inclusive, que o cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, uma figura carimbada desse evento, jurou nunca mais pôr os pés no Parque do Povo durante os festejos do Maior São João do Mundo, onde, alguns anos atrás, foi trocado de última hora por uma dupla de cantores sertanejos. Uma desfeita que ele jamais perdoou e, consequentemente, nunca mais sendo confirmado como uma das atrações de peso da festa.
Lembrando que este era um evento antes produzido e organizado pela prefeitura da cidade e que agora, terceirizado, fica nas mãos da iniciativa privada, o motivo principal, talvez, de a festa ter ganhado em proporção e haver perdido em tradição, gerando inevitáveis descaracterizações. Prova maior disto é o fato de que o Parque do Povo está ficando cada vez menos do povo, com o seu espaço físico cada vez mais tomado por camarotes vips, áreas protegidas e com vista privilegiada da festa, onde são explorados a venda de ingressos. O consumo de bebidas e comidas típicas nem se fala, uma vez que ninguém pode trazer nada de suas casas e os preços são um verdadeiro absurdo. Enquanto isso, a insegurança fala mais alto pra quem tá na pista, ficando a mercê da própria sorte. Mas esses são assuntos para serem debatidos em outra oportunidade.
Que a alma forrozeira e a qualidade musical de Luiz Gonzaga nos protejam pelos anos seguintes desse festival de música ruim.
Paulo Seixas, 01/06/2023