Uma Vida de Circo VIII

Fogo no circo

Seguimos para Juiz de Fora, cidade grande e bonita. O povo gostava muito do circo. Lá minha irmã Elza casou-se com um motorista de táxi. Minha mãe ficou muito triste. Elza só tinha quinze anos e foi uma perda para o circo. Ela era uma grande artista. Fazia comigo números de equilíbrio no arame.

De Juiz de Fora seguimos para a cidade de Barbacena. A viagem foi de trem. Despachou-se o circo que foi colocado em uma prancha que ia bem atrás da locomotiva, a Maria Fumaça, como se dizia antigamente. Com o movimento, a máquina jogava faíscas para cima. Com o vento, uma fagulha atingiu um fardo de lona do circo. O fogo foi-se espalhando por toda a bagagem. Quando o maquinista percebeu e parou o trem, já não restava mais nada. O circo estava todo queimado. Nós, os artistas, chorávamos ao ver aquela tragédia. Era tudo o que tínhamos. Ficamos só com as bagagens de mão. Toda a nossa riqueza tinha-se queimado.

Chegando a Barbacena, as famílias do circo separaram-se. Minha irmã Elza ficou em Juiz de Fora com o marido. Minha irmã Floripes casou-se com o músico Alcides e continuou no circo, mas não mais se apresentou. Para minha mãe só restava eu de artista. Ficamos sem nada. Só tínhamos a nossa arte e algumas peças de roupa. Foram dias difíceis. Passamos a fazer pequenas apresentações na periferia de Barbacena, nas escolas, nas praças públicas e até mesmo nas estrebarias.

E assim passaram-se os meses.

Mas Deus escreve certo em linhas tortas. Chegou um circo em Barbacena que estava fazendo muito sucesso. Fomos falar com o Diretor que se chamava Euclides. Ele entendeu nosso drama e nos contratou para fazer parte em sua companhia de circo. Graças a Deus, o pesadelo tinha acabado.

Com grande emoção fiz minha primeira apresentação naquele novo circo. Fui muito aplaudida. O Diretor me cumprimentou satisfeito. Era a recompensa de tudo e assim naquele novo circo, com novo ambiente e novos colegas, a vida prosseguia.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/12/2007
Reeditado em 16/12/2007
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