Uma Vida de Circo VII

Morre o Palhaço Pindoba

Meu padrasto palhaço passou, dali em diante, a receber melhores cachês por ter boas artistas e bons números para oferecer. Moças bonitas é o que chama a atenção no circo. Não podíamos ir a lugar nenhum. Se desobedecêssemos, éramos castigadas. Todas as compras eram feitas por ele. Nunca víamos a cor do dinheiro. A única alegria para nós eram os aplausos da platéia. O palhaço era viciado no jogo de cartas e, com mais dinheiro no bolso, passava as noites jogando tudo o que ganhávamos. Ele perdia nas noitadas e nas bebidas. Minha mãe não podia dizer nada. O palhaço Pindoba era muito engraçado no picadeiro, mas fora dele não fazia graça para ninguém rir. Continuava nas farras até que adoeceu. Contraiu uma tuberculose galopante e morreu com trinta e três anos de idade. Foi uma grande perda para o circo, pois, além de bom palhaço, era também um bom ensaiador. Minha mãe ficou triste, viúva pela segunda vez. Nós, as enteadas, respiramos aliviadas. Ficamos livres de um carcereiro.

As viagens continuavam. O circo foi crescendo. Lona nova. Mais cadeiras. Guarda-roupa novo.

Com morte de meu padrasto palhaço, praticamente, passei a ser dona de mim. Só representava os números que gostava. Deixei o trapézio de lado e dediquei-me aos números de canto e dança. Carmen Miranda era meu ídolo. Gostava de imitá-la. Era mais fácil, menos perigoso e mais aplaudido.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/12/2007
Reeditado em 16/12/2007
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