Uma Vida de Circo IV
A Estréia
Finalmente, depois de rígidos ensaios, chegou o dia de minha estréia no circo. Durante o dia, grande fora a propaganda feita. O palhaço saiu às ruas em grandes pernas de pau e gritava no megafone:
- Hoje, não percam a estréia da garotinha contorcionista, única no gênero, com apenas oito anos de idade. Ela vai apresentar um número de deslocação! Não percam!
A criançada ia gritando atrás:
- É sim, senhor... É sim, senhor...
Á noite, o circo estava repleto. A Banda de Música tocava bonito. Meu padrasto palhaço andava de um lado para o outro muito nervoso! Eu amedrontada, tremia... tremia... De vez em quando abria uma rachinha da cortina e olhava a platéia, com medo. O palhaço chegou para mim e disse:
- É agora, Lourinha ( este era o meu apelido). É a sua entrada.
- Não vou... não vou... estou com dor de barriga.
O palhaço riu sarcasticamente e disse:
- Você está é com manha.
Os minutos foram passando. O povo gritava:
- Tá na hora... tá na hora...
O que fez o palhaço? Enrolou um lençol no meu corpo, fez uma trouxa, pôs às costas e levou para o picadeiro e colocou no chão. Levantei-me amedrontada como um animalzinho, olhei assustada para o palhaço, cumprimentei o público, joguei beijos e comecei o meu número. Terminando, a platéia me aplaudiu de pé. Os mais entusiasmados jogavam níqueis de prata no picadeiro. Eu, alegre, corria a apanhá-los. O palhaço, fazendo piruetas, ajudava a catar os níqueis e gritava:
- Joga mais... joga notas...
Eu corri para o camarim, à procura de minha mãe, com as mãozinhas cheias de níqueis e chorava de alegria. Coloquei uma capa nos ombros, peguei meus retratos r fui vendê-los na platéia.
E assim nasceu uma artista!
Quase já sem vista
no centro da pista,
sem querer
foi crescendo,
em baixo do sereno,
e aprendendo a sofrer...