O Pega-Moscas
Admito que tomei a atitude de cabeça quente, queria um pouco de sossego e as intervenções desses insetos me tiraram a tranquilidade.
Então, eivado de um sentimento maldoso, e vingativo não tive dúvidas quanto a providência necessária. Ativei a armadilha, uma luminária com lâmpada de luz arroxeada (segundo especialistas) que serve para atrair a atenção dos insetos e um papel pega-moscas.
Em principio, curioso de como seria o processo, aguardei algum tempo para certificar a eficácia do engenho.
Sim, não demorou mais que dez minutos e a primeira vítima caiu na armadilha. A satisfação pela paz conquistada foi enorme, mas não suficiente.
Outro mosquito preso, depois mais um e mais um... em pouco tempo o papel cumprira sua função com louvor.
Mas, ainda não suficiente.
O que me faltava? Pensei.
Precisava vê-las pagando pelo mal que me causaram. Sim, era isso.
Deixei de lado minha obrigação e pus-me novanente à vigília. Outro mosquito, não, melhor, era uma mosca grande, daquelas que dá medo e a mãe sempre alertava que punha ovos antropófagos.
O mais leve toque no papel foi suficiente para aprisiona-la. Eu observei tudo como um verdadeiro deus da vingança, sorrindo triunfante por tão fácil vitória.
Entretanto, ela lutou, bateu suas asas com a maior força possível. Lutou e lutou e isso me incomodou. Ora, eu não devia nada a ela, por que me importar? Era ela ou meus trabalhos. Fiz o que precisava fazer, assim como a mosca, que precisava se alimentar... de repente, os argumentos já não se sustentavam diante da crueldade. Era a vida querendo viver, querendo existir, lutando para ser. No ímpeto de desfazer o mal que pratiquei, tentei retirar o inseto, mas piorei a situação e o mutilei, abreviando sua vida. Sim, era uma mosca, e eu um simples humano.
Um simples humano que condenou um ser vivo a morte cruel por causa de um zumbido.