A MORDAÇA
Recolhido a minha insignificância, novamente volto para casa depois de um exaustivo dia de trabalho, bombardeado pelo sentimento de impotência, por não poder resolver aquela situação que todos os dias me deparava ao passa pela Avenida Monteiro Lobato. Parado no mesmo sinal vermelho do semáforo enquanto esperava a minha vez de atravessar a larga e famosa Av. Presidente Epitácio Pessoa, via a mesma cena todos os dias.
No nobre bairro de Tambaú, na Capital Paraibana, João Pessoa, lá estava mais uma vez a mesma cena de quase todos os dias, com duas pessoas de contrastante idade, na postura de abandono. Sim, quase todos os dias! Porque alguns dias eu me surpreendia, porque depois de já haver separado algumas moedas para doar aquela senhora e o menino, tinha que devolver ao suporte no tabelie do carro, por eles não estarem ali. Porém, quase que constantemente, aqueles dois faziam parte daquele cenário.
Pela aguça inquieta do meu olhar, eu encontrava uma aparência entre eles e supunha que fossem o neto e a avó. Duas vidas, dois diferentes comportamentos. Uma recostada ao tronco de um frondoso Pau Brasil, com apertado olhar distante, que parecia aos poucos apagar-se a esperança, sob a pressão imposta pela idade. A outra pessoa, era um menino de lindas feições, com cerca de sete ou oito anos, que ali estava enfeiado pelas circunstâncias que o envolvia. Inquieto, com movimentos dispersos, ele brincava com uma tralha qualquer de um velho brinquedo.
Enquanto o semáforo não ficava verde, as vezes eu me atrevia e soltava uma frase ou outra, para motivá-los a viver. Certo dia perguntei àquela senhora, me referindo ao menino: - Ele está na escola? E ela respondeu: Está sim, ele já fez o dever de casa antes de vir para cá. Embora eu não encontrasse sustentação na sua afirmativa, preferi acreditar e continuei: - Não deixe de levá-lo sempre para à escola, que ele vai ser um grande homem! O Semáforo abriu e eu acelerei, ainda ouvindo ela dizer: Não vou deixar!
Enquanto eu seguia para casa, sentia um nó na “minha garganta de professor”, provocado pela impotência de não poder passar àquela criança sem perspectiva de vida, alguns conhecimentos para um futuro melhor. Como por exemplo: diretrizes sobre o cainho reto, como ele se desviar do perigo e como entrar pela porta certa. Porém "o sistema" colocava "A Mordaça" na minha boca, me impedindo de ensinar aquela criança jogada.
Enquanto eu acelerava na "Av. Beira Rio", para me livrar do lento trânsito do horário de pico, ia passando um filme na minha cabeça. E chovia no meu pensamento as situações complicadas que hoje acontecem no Brasil e no mundo, com as pessoas desprovidas de assistência pela sociedade.
A inquietude gritando dentro de mim não aceitava a disparidade de que, enquanto a ciência tem avançado, dando asas a tecnologia com propriedade para levar o homem ao espaço sideral, não consegue quebrar as cadeias das grandes diferenças entre as classes sociais. E o fantasma da fome, continua amedrontando as pessoas e se tornando cada vez mais real. Testemunhando a soma do censo dos famintos, sigo entre os inconformados com os marcantes casos dos descasos sociais, como aquele da dupla lá do semáforo.
E vem a grande pergunta: Como retirar "A Mordaça"?
Como quebrar a mordaça da boca dos que ainda se propõe a gritar e lutar pelos Direitos Humanos, em favor dos humildes e do bem comum social? Pois uma grossa fatia social, continua alimentada pela inveja, que cavalga montada num monstro chamado orgulho, aparelhado pela ambição do “sempre ter mais”. Isto tem ferido os princípios fundamentais dos Direitos Humanos no que diz:
"Cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto nos Estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição."
Continuando as perguntas;
Onde comprar o colírio que unja os olhos dos poderosos, para que vejam “o semelhante” como "seu semelhante"? É claro e evidente que a grande maioria, entende que por si só, auto se completa. Sendo este um dos fatores que leva os poderosos a se verem como autossuficientes. Percebemos que a vaidade tem tornado o ser humano cada vez mais avarento e o amor fraternal tem esfriado. O respaldo está na semelhança do que está escrito nas Sagradas Escrituras no livro de Apocalipse, Capítulo 3, nos versos 17 e 18, no que Deus diz: " Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas."
Verdade seja dita, que alguns heroicos gritos ainda são ouvidos. Algumas vozes ainda funcionam como "O Sal da Terra”, evitando que essa “apodreça”. Tais, exercem a função de não deixar que a terra a seja engolida pelas trevas e possa sobressair a ainda brilhar na escuridão que cobrem os povos. Destacamos instituições como o World Parlament of Security and Peace, WPO, com seu forte exército que combate as injustiças sociais no mundo. Seus Altos Comissários e Embaixadores da Paz, batalham dia e noite aparelhados por um poderoso órgão de Inteligência a serviço da Paz, contra as barbáries que são praticadas contra a humanidade.
Ainda processando o vídeo da mente, paro no último semáforo antes de chegar a minha casa. Exausto do trabalho e com fome, faço uma pausa no filme da mente para agradecer a Deus pelas dádivas recebidas, enquanto os incessantes flashes de pensamentos não param de sinalizar, que em situações como a daquela dupla do sinal, hoje ainda vivem muitos semelhantes meus.
João Pessoa 09 de junho de 2021.
Dom Antonio Joaquim Aves (Thiago Aves)
Embaixador da Paz Mundial - Núcleo Paraíba, Brasil