A primeira de 1914 até 1918
Eu nasci no dia 12 de novembro de 1918, alegra e feliz como nasce qualquer criança, mas apanhei para chorar.
A guerra acabou ontem então eu nasci num dia de paz onde não ouviria os maldosos estampidos para atrapalhar meus sonos.
Mas em 1939 eu já estava com 21 anos e fui convocado para a guerra, logo eu que era amante da paz. Até o ano de 1945, eu estava com 27 anos, um braço amputado, surdo, cego de um olho, sentindo-me um imprestável olhando as medalhas que me deram com frases de heroismo.
Não havia muita coisa para fazer, após ter regressado para casa, pois o que eu tinha de fazer, fiz em campo de batalha, matando pessoas que nunca nem se quer me deram um bom dia, ou diretamente praticara algum tipo de maldade comigo.
Mas eu tinha que mata-los, senão, eles me matariam, pois não tiveram compaixão de mim ao deixarem-me impossibilitado de pegar numa caneta para escrever, de ouvir os pássaros gorjeando nos pés de amoras e nem poder ver o sol se pondo no horizonte anunciando o fim de um novo dia, pois um dos meus olhos estava perdido e o outro pouca serventia tinha.
Eu, aos 27, já me sentia como se tivesse com 60 anos, pois qualquer barulho era um tiro, qualquer fogueira era um lança chamas, qualquer grito de criança nas ruas, soava como ameaça e por muitas vezes eu disparei para o alto tentando afugentar aqueles meus inimigos que gritavam na rua com a minha pistola 45 que trouxe comigo dos campos de batalha.
Deixaram-me trazer, afinal para que mais eu serviria se risco algum poderia oferecer para alguém?
A guerra acabou e a minha vida não poderia mais continuar também.
Ouviram o estampido de uma 45 lá na rua, eu não ouvi nada disso, pois o mundo escureceu ao meu redor e eu dormi o sono que há tempos eu merecia.
Carlos Silva