O nada
Eu tenho essa doença: não consigo fazer nada por muito tempo. Isso é, a não ser quando estou dormindo. Apesar que, até mesmo dormindo, é provável que faça algo em sonho. É uma doença isso, só pode ser. Um minuto parado, olhando para o teto, e logo vem aquela agonia de me ocupar, pegar um livro, assistir um vídeo, martelar um prego, qualquer coisa, menos o nada.
O B.a certa vez me sugeriu a meditação, mas passado um tempo, pensei com meus botões e concluí que meditar é fazer algo, “meditar”.
O que eu queria mesmo era fazer nada. E esse nada que me refiro, que gostaria de experimentar e não consigo, é o nada sem pensar, sem planejar. “Fazer nada”, “querendo fazer nada”, também é fazer alguma coisa.
Para ser mais claro, desejo fazer um nada igual aos dos gatos daqui, esses pequenos Budas que ficam deitados relaxadamente o dia inteiro sem demonstrar a menor inquietação pela sua inercia. Isso sim é fazer um nada que se preze!
Não tenho mais nada a declarar.