EUFORICOS DIZERES (dois textos)
Ahh. Quem dera. Quem dera escrever o que pulsa Minh ‘alma, quem dera poder dar um grito de libertação ou de alerta como um dia fez Gonzaguinha.
Minhas frases escritas se derramam, entre papeis rascunhados, minhas frases vocais se despejam nutrindo nalguns, um sentimento de paz e alento que por vezes desperta o pertencimento e a identidade daqueles que tem o privilégio de ouvir-me. Ou não.
Os meus versos flutuam, minhas palavras são carregadas pelo vento, pelas fibras óticas do cibernético mundo, elas atravessam as mais longincuas fronteiras e chegam onde nem eu mesmo posso imaginar, pois esse é o poder da palavra, é o intuito maior da poesia, que não pede licença para entrar onde ela quer.
O QUE É O CARNAVAL?
O povo pula pelas ruas, exteriorizando o seu furor em busca de uma alegria, enquanto a barriga geme, mas mesmo assim, é notório imaginar que existem mais cervejas nas mãos, do que leite nas mesas dos lares e que o pão e o circo ainda se faz presente no viver manipulado de muitos, que de tão alienados nem percebem a fome que lhes cerca.
A fantasia, o circuito por onde passarão os foliões, as músicas (ou melhor) o som musicado age como entorpecente que provoca um estado de letargia tão dominante, que feito onda, o povo vai formando uma crista de impercepção do próprio agir, face ao domínio que aquele som e as mensagens (erotizadas) lhes são servidas como um banquete total de ignorância.
Deixa passar a folia, depois da quarta-feira de cinzas a gente pensa nisso. Hoje ainda é segunda, deixa extravasar a eufórica retenção da emoção que estava escondida no peito.
Se, a ilusão momentânea apaga um sofrer duradouro? Não sei. Mas ainda é carnaval e o que eu quero mesmo, é botar o meu bloco na rua, como um dia disse o saudoso Sergio Moraes Sampaio.