DE QUE VALE A VIDA QUE TENHO , SE NEM MESMO O QUE TENHO, PERTENCE A MIM?

CAPITULO I

(Eu me recolho, encolho, me entoco e quieto fico, tentando entender e até quem sabe) aceitar os desígnios que a vida tem para cada um de nós.

Às vezes fico assim meio besta, em busca de algo que nem sei onde está, em busca de coisas que nem sei se vou achar.

Em busca de mim, com presságio de morte, já que a chamada sorte, não vem me procurar.

Calado, parado, tácito, aguardo o inicio do meu fim, como uma desculpa por não ter culpa em ter lutado para em vão viver, sem os chamados louros da vitória.

Aumenta sim, e muito, a vontade de pecar, já que a exatidão dos passos não chega a nenhum lugar.

Não me condenem, pois, ninguém conhece o que passa em minha vida, dentro do meu coração, em volta de mim, às nuvens que enfrento que de tão negra me cegam os olhos e me fazem tropeçar.

Um monte de urubus que me enganam o tempo todo com verbetes malditos, de mel misturado com fel nos lábios, na ânsia de me iludir.

Mas não me iludem mais não, pois minha fase de sonhar já se pipocou faz muito tempo pra bem longe de mim.

Sou mais o feijão na cuia, do que o macarrão sonhado nos pratos de outrem e se esse me faltar, eu não me importo: Alguém vai ter que me dar. Afinal, muitos, já tiraram muito de mim.

Só quero viver, e se minha vida for interrompida, que poderei fazer se nem a dor da morte eu sei como é? Deixe que ela venha me busque me ache e me leve sem culpas, sem desculpas sem medos, sem pecado e sem perdão.

Não sou eu mesmo quem irei me julgar. Eu só queria viver essa vida de forma diferente, respeitosa, brilhante, inteligente, sem cobranças, sem comparações e sem culpa de nada, pois não sou obrigado ser vitorioso somente porque alguns assim querem que eu seja, como um exemplo de conquistas.

Eu já morri e faz é muito tempo, (Desde o dia que meu cartão foi tirado da chapeira e me mandaram subir até o RH) apenas aqui minha alma ainda flutua nos caminhos das incertezas, até chegar a hora em que eu possa me deitar fechar os olhos e dizer; JÁ FUI, MUNDO INGRATO DOS INFERNOS, agora, faça com os outros o que você bem quiser, pois não estarei mais aqui para ver, nem para rir e tampouco para chorar, por todos os erros e acertos de quem quer que seja inclusive os meus.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

CAPITULO II

Malditos, muitos malditos me cercaram e eram abastados, mas que nunca se deram ao luxo de me ajudar, ou de me dar um auxilio. Eu já to cheio de promessas, de apertos de mãos, de sorrisos e de tanta falsidade ao meu redor.

Quero morrer em paz, e aos que estou devendo dinheiro, que se lasquem ou vão cobrar ao capeta, seus exploradores dos infernos.

Toda esperança se jogada na água, se afoga, toda pedra se jogada no lago afunda, todo caminho se tiver placa errada, faz o transeunte mudar a rota para o caminho da incerteza. Muitos só admiram a rosa, (ou acham que a sua utilidade, é restringida apenas para enfeitar túmulos de quem se despede da vida), mas que infelizmente, jamais tiveram a curiosidade de sentir o seu perfume. Dêem-me um jardim de vida, enquanto ainda posso sentir o olor, emanado de uma única e simples rosa.

Deveras, serão as coroas de flores recebidas que jogarão por sobre minha campa, pois ali ficará exposta, sendo tangida pelo vento, castigada pelo frio da noite e serão secas pela força do sol que irá surgir ao brilho do novo dia, de um dia que não mais será meu. Que me adiantarão tantas homenagens, se por vezes em tantas portas bati, sem que pudesses entender e tampouco atender ao meu suplicante grito mudo? Covardes, tantos covardes eu conheci na vida, que bem melhor será a morte de onde nunca mais os verei. Mundo vil, cruel, de pessoas ditas humanas, mas que esquecem o SER, como parte integrante do mesmo habitat. O “Ser”, que tanto se diz Humano, é por vezes humano, sem ser, ao menos um pedaço do “Ser” que se diz ser. Hoje eu estou só, estou tão sozinho que dispensei até a própria solidão, pois até a companhia dela, me incomodava. Todavia, estando só, só tenho a mim mesmo para confessar minhas dores, mas por outro lado sou feliz, por não ouvir vozes de conselhos tentando direcionar-me. O mundo tá cheio de “santoscapetas” que nos abordam com uma mão na bíblia e com uma pistola na outra. Gosto da solidão, ela é muda, e não me perturba tanto, não me agride e nem tenta mudar o meu modo de pensar de agir de ser. De ser Este “Ser” que tanto tento ser. Não é fácil amargar as próprias dores, chorar o sofrer de outras pessoas que nem se quer se conhece, mas a televisão insiste em reprisar só para tirar de dentro de nós um sofrimento que nem seria nosso, mas por sermos humanos, nos afetam. Meu Deus, quantas pessoas boas já se foram sem ao menos ver o triunfar daqueles seus mais dedicados sonhos.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

CAPITULO III

Até por isso eu sofro também. Vi hoje a reportagem de uma moça de 26 anos (meu pai do céu, eu tenho 56) exatamente hoje, lá na cidade de Irecê, ela está sendo velada e o seu sepultamento será as 17h00min horas da tarde de hoje do mês de Julho de 2019, com 26 anos. E seus sonhos, quem os sonharão, quem dará continuidade, o que ficou pelo caminho, quais os seus segredos que ela tinha vontade de revelar, qual seu doce preferido, seu time sua cor, sua crença?

Tudo acabou para ela, para quem a conhecera, pois eu nem sei o seu nome e tampouco nunca a vi, mas fiquei triste pela sua partida tão prematura.

O sofrer do mundo me entristece, a fome do mundo, me dá fome de justiça, o desemprego do mundo, me desemprega, a falta de fé do mundo, torna-me incapaz de alegrar alguém que chora por não ter, não poder, não ter conseguido, não ter tido a oportunidade, não ter na vida um pouco de paz para que ao menos pudesse ser confundida com felicidade.

As dores do mundo me doem, e eu amarrado em meus pensamentos, sofro pelo sofrer que nem se quer é meu.

Basta saber que alguém está necessitado de algo e eu já começo me preocupar e me culpar pela incapacidade às vezes de sanar o seu problema, livra-lo do peso que lhe aflige a alma, o corpo, a mente.

O mundo é uma draga que vai engolindo o ser humano, devido aos seus atos falhos e este não para de corromper a vida para ganhar mais, mais e sempre mais, acumulando o que não poderá ter para sempre, pois um dia voltará ao pó da terra.

-“Sim, que se dane (Pensarão alguns) a minha família ficará bem e não vai sofrer quando eu for dessa pra melhor”.

Mas um dia tudo acaba como para todos nós acabará independente de qual lado estejamos na balança da vida.

Uns usam gravatas, outros vendem picolé, outros limpam para brisas nos faróis, de luxuosos carros (que podem estar conduzindo um santo ou um assassino) outros são juízes que batem o martelo e sentenciam um Homem a 30 anos de prisão. Isso também me assusta e muito me entristece: 30 anos de cadeia, isso da mais de 10.950 dias de reclusão, sem ir à praia, sem tomar uma cachaça fiado no boteco do Mariano lá na favela, sem transar com uma puta, fumar um baseado, ou ir numa igreja, quem sabe trocar o pneu de um fusca 68 fabricado em Volta Redonda, jogar um baba na vila com os amigos de infância.

Mas o peso do martelo lhe trai o pensar, ao lembrar que o veredito dado pelo magistrado foi de 30 anos de cadeia. A pancada em contato com o pedaço de madeira ecoa nos ouvidos para que ele jamais se esqueça da sua sentença. O próximo passo a seguir, é a condução para o presidio de segurança máxima. Sim, agora está algemado é marginal, cometeu um delito foi condenado e vai ser preso dividir cela com pessoas que nunca viu e nem sabe seus nomes, suas procedências, agora ele passará a ser um deles.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

CAPITULO IV

Um fora da Lei, que receberá auxilio reclusão e se tiver bom comportamento, aliviará sua pena, mas ele pensa: Esse negocio de Habeas corpus é para ricos abastados, os mesmos que conheci tempos atrás. Ele vê os carros passando através da grade apertada da viatura, os barulhos dos carros, alguém vendendo a bandeira do seu time preferido pois hoje é dia de decisão do campeonato mais importante da temporada, mas o que mais ouve agora, é o som irritante das sirenes rasgando nas avenidas para chegar logo ao destino e entregar o(s)pacote(s) que conduz na viatura.

Isso também me entristece, mesmo sabendo que ele errou (SE ERROU) e que o Exmo. Senhor Juiz, baseado em fatos levantados pela promotoria e pelas evidencias circunstanciais do caso que lhe fora apresentada e face ao júri composto por pessoas de bem, o condenara, sem pensar que iria afasta-lo dos filhos, da esposa, do emprego, da vida que tinha aqui fora, dos gritos que daria a cada gol do seu time, mas que agora, (feito os passarinhos que ele criara por pura diversão), vai sentir de perto e na pele, o poder que as barras de ferro têm ao aprisionar um Ser, negando-lhe a liberdade.

A viatura Cruza os portões, e ele arrisca olhar para trás e pensa: Meu Deus, tudo se acabou. Lembra-se do filho mais novo (Seu xodozinho de nove anos) da mocinha de 16 e do rapagão de 20. Inevitavelmente, caem lágrimas dos olhos quando ele encara essa realidade que nunca mais terá o que já teve.

Bummmm.......... Um impacto ensurdecedor em sua mente o sacode de dentro pra fora do seu intimo. É a ficha que acaba de cair como uma pedra na sua mente, dando-lhe a certeza plena que a cadeia será o seu novo lar.

Severino Bartolomeu de Campos Rodrigues. O Velho Severo, (Como era conhecido lá fora) entra na cela 326 ouve o carcereiro bater o cadeado e lhe dizer: - Boas férias companheiro. Espero que aproveite muito bem a sua estada aqui. E sai em deboche dando risadas, como se fosse imune a um possível deslize de conduta em algum dia na vida.

Com olhar tremulo e um pouco cabisbaixo, ele passa o olhar pelo ambiente que media três x três e é surpreendido por uma voz grave que lhe dá as boas vindas dizendo: BEM VINDO AO INFERNO.

A mesma voz que lhe dá as boas vindas pergunta: Qual foi o artigo? E ele responde sem fitar a cara de quem lhe dirigia a pergunta: Na atual circunstancia da minha vida, o artigo não importa, pois a mim mesmo, nada mais tem tanta importância assim.

Ele se cala, se recolhe se encolhe, se entoca e quieto fica, tentando entender e até (quem sabe) aceitar os desígnios que a vida tem para cada um de nós.

FIM.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 17/02/2023
Reeditado em 17/02/2023
Código do texto: T7721397
Classificação de conteúdo: seguro