Ópio
As luzes esgueiravam-se por entre as cortinas amareladas, e um tanto engorduradas, e tomavam a forma das cores ternas e indecisas da aurora. Os raios insistiam em formar uma linha cintilante que transpassava, ao mesmo tempo, duas travessas cheias de frutas transpirando primavera pelos poros, enquanto impregnava o ambiente com todos os perfumes frescos, ternos e brandos.
Os perfumes que espalhavam-se como néctar pelo ambiente assemelhavam-se aqueles perfumes comumente encontrados nos jardins das fadas ou nos bosques das criaturas místicas. Ou mesmo, como vaga lembrança de vidas passadas, aqueles aromas azuis, em que sugerimos frequentemente ser o perfume do país dos Deuses e Imortais celestes.
O céu era morno como um capuccino no fim da tarde, e o ambiente estava tão calmo, que quase podia-se ver os ruídos do silêncio tão comedido quanto as cores brandas do majestoso céu que avistava-se - um tanto distante até, no horizonte da janela, cuja o vitral quebrado e empoeirado sugeriu que uma possível desordem no local estava instalando-se, quando a atenção era exercida sobre o reflexo nos cacos quebrados.