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𝒞𝒶𝓇𝓉𝒶 𝒶ℴ ℒℯ𝒾𝓉ℴ𝓇

 

Caros leitores, aquele que está acostumado a tomar banho de multidão, jamais temerá ao banhar-se em meio à uma multidão indiferente e superficial. Compreendendo as novas regras sociais que naturalizam, de modo brutal, a sucursal do ódio e da ingratidão, quem eloquentemente iria permear a normalidade do não ser, senão  aquele a quem a audácia e a ousadia inflou o berço na hora do nascimento, para assim, ir de encontro ao consenso mútuo e romper a bolha do conluio coeso? Infelizmente, caros leitores, já não há outro modo de existir nessa harmonia infernal, se não pela trama ou pela máscara, pelo não ser e pela fraude. Com isso,  aqui jaz o murmúrio dos pobres espíritos fatigados pelo labor e pela volatilidade do dia, pela efemeridade da vida, e pela injustiça do existir.

Mesmo que de lá pra cá haja um grande blá, blá, blá, me pergunto se é um simples murmurinho? Todavia, a sinistra ululação nega prazerosamente a especulação, e recordo-me que de alguma forma há uma estranha sintonia, um tanto hipocondríaca, nesses gritos discordantes que os desafortunados e miseráveis, a quem a noite não acalma, com a esperança de serem ouvidos se prendem aos burburios como se fosse a única coisa lhes resta para acalentar seus espíritos atingidos pelos infortúnios da peste, da fome e da maldade. Ainda assim, eles assistem suas vidas degringolar pelos vermes que a espreitam, a carne podre de seus entes, roem, e proclamam a carnificina dos pobres espíritos vassalos. Assim como meu pobre espírito sonhador, caros leitores, outrora sufocado por uma multidão egóica e indiferente, à noite, fumando e contemplando a multidão submersa em uma cortina de lamentações, que se dissolve na atmosfera sinistra, penso e embalo meus pensamentos atordoados pelo odor fétido de desgraça que se agrega, cada vez mais, ao próprio oxigênio do ambiente.

Caros leitores, de vós não espero simpatia pelos infortúnios que se prendem ao meu ser, mas se, de alguma forma, minhas mais sinceras e humildes queixas vos tocarem, sinto que já não há mais nada a me preocupar. Pois, na desgraça abstrata do mundo estamos todos inclusos.

 

 

ℬℯ𝓂 𝓋𝒾𝓃𝒹ℴ𝓈 𝒶̀ 𝒹ℯ𝓈ℊ𝓇𝒶𝒸̧𝒶 𝒶𝒷𝓈𝓉𝓇𝒶𝓉𝒶 𝓆𝓊ℯ 𝓃ℴ𝓈 𝒸ℯ𝓇𝒸𝒶.