Um Deus Liberal e Meritocrata
Em estilo Aziz Farah*, desde a conquista do território indígena e o seu extermínio, Itanhaém nunca mais deixou de crescer como cidade moderna. E eis que aqui estamos, após 490 anos – eu a pouco mais de um mês –, ainda poluindo suas praias, rios e riachos, rasgando estradas, pondo abaixo árvores, matando, forçando convivência ou expulsando parte da fauna para construir nossas moradias.
Ontem mesmo, fui andar de bicicleta na praia enquanto ele, o pedreiro, ficou aqui, assentando bloco. A praia estava cheia. Na sua maioria, gente de férias vindas lá da capital. E ele aqui, trabalhando. Hoje, domingo, se não fosse o pneu da moto ter furado, ele estaria aqui, fazendo sabe o que? Isso mesmo: trabalhando.
Ubiquamente, não sei se por vicio, costume, gosto ou fuga, o jovem pedreiro tem se dedicado a muitas obras por essas bandas. Inclusive, o alvanéu vem levantando a minha casa onde, se arqueólogos e antropólogos procurassem, encontrariam vestígios da passagem dos tais indígenas que cá viveram. Apenas rastros, ninharias, pois, felizmente, com a benção de Deus, nosso senhor, matamos quase todos eles. Caso tenha sobrado meia dúzia, são muitos. Ontem, quando eu vinha a pedaladas da praia, passei pelo que restou deles numa casinha pobre de alvenaria na beira da estrada. Havia um culto evangélico. Ao que tudo indica, esses que até aqui sobreviveram, preferiram a conversão à morte. Não é o caso dos Yanomami em Roraima, castigados por um Deus Liberal e meritocrata, através das mãos de Bolsonaro e Damares. Eu ouvi um amém, irmãos?
Nhandejara Nhanderu
Cheroraihu
Nhandejara Nhanderu
Ore poriahu...
* As Sete Pragas, Domingos Pellegrini.