Detonando a confiança e usando o dinheiro dos outros

Detonando a confiança e usando o dinheiro dos outros

por Márcio de Ávila Rodrigues

[23/01/2023]

Muito noticiada a história da estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP), já no último ano do curso, que consumiu quase um milhão de reais arrecadados pelos colegas para a grande festa de formatura prevista para o final de 2023.

O caso específico pode não ser comum, mas o mau uso de dinheiro de terceiros é frequente na história cotidiana do povo brasileiro.

Obviamente o erro maior é de quem comete o crime, mas quem concede o voto de confiança também erra por ineficiência na fiscalização.

O povo brasileiro tem vergonha de fiscalizar. Teme que qualquer forma de cobrança de resultados seja interpretada como desrespeito ou mesquinhez.

É um erro cultural. A fiscalização é um ato respeitado nas culturas mais avançadas.

Além da vergonha, também existe o comodismo. Muita gente prefere não se envolver para não ter um trabalho extra, para não perder um tempo precioso que poderia ser dedicado a estudos ou lazer.

Com muito maior frequência do que em comissões de formatura, esta situação ocorre também em condomínios residenciais. Síndicos vão se perpetuando - e muitas vezes se locupletando - porque os condôminos, reais proprietários do bem, fogem do trabalho e aborrecimento de resolver os muitos problemas que acontecem no dia a dia de um prédio.

Contribui para o quadro de omissão a existência de seu oposto, que é o hiperativismo, ou excesso de cobranças e exigências. Ainda me mantendo no exemplo dos condomínios residenciais, observo facilmente que muitos condôminos ou tratam o síndico como empregado ou exageram nas exigências e reclamações.

A combinação da omissão com o excesso de participação muitas vezes facilita o acesso do mal-intencionado. Quando sente o desinteresse de outros possíveis candidatos a um cargo por ele almejado, oferece-se a um suposto sacrifício, para alívio (e até aplauso) dos omissos.

Foi o que uma reportagem televisiva relatou sobre a jovem que desviou o dinheiro da formatura da USP. Segundo a fonte de informação da reportagem, ela se ofereceu para atuar na presidência da comissão de formatura.

No alto de minha experiência de vida, eu gostaria de poder falar em um veículo amplo de comunicação para aconselhar a população a vigiar todos os que cuidam de seus bens. Fiscalizar os chefes e diretores de empresas, gerentes de bancos, dirigentes de clubes e associações, líderes políticos, e muitos outros que se enquadram nessa situação.

Mas infelizmente o Facebook, e as redes sociais em geral, não se enquadram na categoria MCM (meios de comunicação em massa) e meu alcance é bastante restrito.

Suficiente apenas para que eu exponha o que eu penso sobre o que a sociedade precisa fazer para se defender de seus exploradores.

A bela menina que ainda sonha em ser médica formada pela USP vai pagar caro pois não será esquecida, ainda que consiga o seu diploma. Certamente confia no histórico de impunidade da cultura brasileira. No Primeiro Mundo certamente passaria uma temporada na penitenciária.

Para acesso à matéria veiculada pelo fantástico use este link: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/01/22/aluguel-de-casa-carro-celular-e-apostas-fantastico-conta-quem-e-a-estudante-de-medicina-da-usp-investigada-por-desviar-dinheiro-de-formatura.ghtml