Bailinhos: onde forjavam-se os amantes.
Aproximava-se as mais esperadas noites de sábado e a excitação fazia o coração palpitar… vinis e vitrolas aposto, já criteriosamente escolhidas as mais belas e ternas baladas…
- Vamos dançar?
Quando a moça dizia não, chamava-se “taba”, (não achei a origem do termo), o fato é que os “amiguinhos”, se avermelhavam de tanto rir, e o ousado solicitante, vermelho de vergonha.
A música começava… ritmo lento, os corpos iam para lá e para cá e quase sem saírem do lugar…
Olhos fechados… rostos colados… ouvia-se a respiração descontrolada do par, a batida do coração, a quentura do corpo.., as mão se entrelaçavam.. o outro braço do cavalheiro tinha a função de aproximar ao máximo os corpos, como a flutuarem no salão… ou na salinha… ou na garagem…
Não havia movimentos bruscos, nem conversas, o casal permanecia introspectivo, parecia sonhar, naquela tenra e peculiar idade, quando as espinhas eram a preocupação, quando a voz começava a engrossar… e a timidez imperava, aliada ao excesso de energia acumulada..,
O mais bacana era a preparação para o beijo, que devia ser rápido e discreto, os rostos se deslocavam por etapas e cada uma delas era de preparação e recíproca cumplicidade. Para alguns, pela primeira vez iam executar o que alguém mais velho ensinou, outros nem sabiam beijar mesmo. O fato é que naquele momento, o mundo se resumia apenas naquelas almas, então chegava-se ao beijo e via-se um turbilhão de estrelas luzentes… um momento que se eterniza, o primeiro beijo e a primeira noite em claro, para, primeiro, internalizar não se tratar de um sonho e depois continuar saboreando aquilo que de mais perto podemos chegar do coração de quem se quer, de quem se ama; e assim ficar retido na caixinha das reminiscências, o ato mais inocente, marcante e desejado do mundo: o desengonçado e inesquecível primeiro beijo.