As verdades das mentiras

Sobre as verdades das mentiras muitos escritores se manifestaram, entre eles Umberto Eco e Mario Vargas Llosa, o primeiro em seu livro Seis passeios sobre os bosques da ficção, e o segundo em seu livro A verdade das Mentiras, em ambos há um ponto em comum: a compreensão de que a ficção é uma mentira que traduz a verdade. Quando um romance é diegese, ele é invenção, um conto também é invenção, e, principalmente nos romances históricos, a ficção traduz a verdade, a fábula. Exemplo de romance fábula é o livro Nome de Guerra, de Almada Negreiros, no qual o texto fala da relação de um homem com uma mulher, ao tratar do desencontro entre eles, termina com a moral escrita em duas linhas: Não se meta na vida alheia, se não for para ficares lá. Muitos romances, ficcionalmente, tratam da miséria humana, das intrigas, das desumanidades, e, obviamente, traduzem verdades; há romances que falam do verdadeiro amor, como o Noites brancas, de Dostoyevsky, é dado ao romancista o direito de mentir para traduzir as verdades da vida, seja a partir de fatos reais, seja a partir de fatos inventados, aos contistas também, aos poetas idem, veja-se o famoso verso de Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor, finge completamente a dor que deveras sente.

Mas as mentiras das verdades não é a verdade das mentiras, como as mentiras propagadas pelo ideólogo do nazismo Joseph Goebbels, que deixou para a humanidade o legado da hipocrisia, da propaganda enganosa, que disse: Se uma mentira for repetida muitas vezes ela se torna verdade. A ideação de Goebbels é primogênita das Fake News, e as Fake News são irmãs xipófagas da ideação de Goebbels, irmãs inseparáveis, se diga a bem da verdade. Mentiras reforçadas pelo sobrinho de Freud, Edward Bernays, que revolucionou a propaganda tornando-a enganosa, quando, tecnicamente, fomentou a intervenção militar dos USA na Guatemala, contratado pela United Fruit, para defender interesses da empresa, tragédia contada pior Llosa no romance Tempos ásperos, de grande interesse para leitores interessados na compreensão do pensamento de Goebbels e de Bernays.

Llosa é um escritor conservador e honesto como escritor, sobre as mentiras que não as da ficção em seus romances sempre defendeu a “mentira literária”, é um escritor europeizado e pró USA, o que faz Tempos ásperos ser um romance essencial. Nos tempos atuais, principalmente, tempo de guerra de narrativas, nos quais os interlocutores defendem verdades absolutas ou absolutistas, sejam elas de razão religiosa ou ideológica, num tempo em que as utopias ou os tetrarcas não fazem mais sentido, pois há necessidade de não mentir para o planeta Terra, com demandas ambientais de combate ao aquecimento global, denominado de outra forma por Dick Chenney, ex-vice-presidente dos USA, que inventou a existência de armas de destruição em massa no Iraque, causando a II Guerra do Golfo.

Mas não desconsideremos também a herança stalinista ou vinda de qualquer segmento religioso ou de qualquer matiz. O mundo tem problemas demais relativos à natureza que está sendo destruída, inclusive a natureza humana.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 11/01/2023
Código do texto: T7692457
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