Um lugarzinho para mim lá em Marte
“Sou um homem ridículo. Agora já quase me têm por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse sendo um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim”.
O sonho de um homem ridículo, Dostoievski.
Os pingos d’agua repicam no telhado sobre a minha cabeça, caem lá das nuvens desde cedo. Josephina, sentada no parapeito da janela, de frente para casa em construção, observa a chuvada lá fora. Ano passado, antes de termos comprado a propriedade, se acrescentaria a essa visão uma imundícia espalhada pelo chão em meio ao mato rasteiro, aos pés das árvores, chafurdados no areal, enfeiando o lugar. O caseiro que aqui vivia nessa época fazia questão de emporcalhar com lixo o ambiente a sua volta. Limpei tudo.
Admito a fraqueza. Pratico, na medida do possível, várias pataquadas, insensatezes desse tipo. Sendo que, por aqui, nessa Itanhaém, não está sendo diferente. Me enfiei logo no mesmo disparate: dei fim no monturo de lixo, dentro e no entorno do terreno, e ainda por cima, se não bastasse, estou tendo a pachorra de sair catando lixo pelas ruas da vizinhança.
Eu sou assim, adquirir esse mal hábito Manuelino (o de Barros), vivo a vida praticando inutilidades e insignificâncias. Coisinhas bobas e simples como apertar obstinadamente interruptores de lâmpadas acesas que vão sendo deixadas para trás. Separar teimosamente orgânico e recicláveis. Fechar torneiras de inox abertas a derramar água sem mais nem por quê, não me demorar muito no banho... Um orgulho para a Greta Thunberg e o Leonardo DiCaprio, não é mesmo.
Ridículo, eu sei, afinal, o mundo está para acabar e eu aqui, A favor de um Mundo Melhor, contra o Pondé, querendo melhorá-lo com chatezas, quando o mais correto a se fazer, seria ajuntar dinheiro para pagar o Elon Musk, tentar reservar um lugarzinho para mim lá em Marte.