Vida de borboleta
Valéria Gurgel
A beleza das borboletas me encanta. Por suas cores, pela sincronicidade de suas asas. Pela delicadeza, pela fragilidade e singeleza e ao mesmo tempo essa magnitude de ser quem é, borboleta.
Em sua peculiar finitude, talvez elas nem se preocupem por isso, seguem volitando por aí, entre as flores, as plantas, as árvores, expondo inconscientes a grandeza da vida e de sua missão polinizadora no mundo, cocriadora em sua majestosa pequenez.
Suas incansáveis asinhas estão sempre abertas e prontas para voar. Prontas para escrever no ar a sua própria história, a missão de ser quem é. Será que elas não se cansam? Borboletas dormem? Aonde descansam as borboletas?
Passei a observá-las mais atenta e acompanhar o paradoxo de sua própria existência; desfrutam da calmaria, sendo ágeis e belas, essas lagartas metamorfoseadas pela vida.
Percebi que, como os colibris, pairam no ar para perceber cada momento presente, com efêmera delicadeza tocam as pétalas das flores, sobre folhas e até sobre gotículas de água, sejam elas límpidas, turvas, puras ou contaminadas.
Contemplar uma borboleta é como ler uma linda poesia. As borboletas são capazes de tocar as nossas emoções, os nossos corações. Seriam esses os preciosos momentos dos lepdopteriais oásis, o breve descanso da alma?
Quando parecem descansar, estão polinizando a vida pelos estigmas da natureza.
Borboletas choram? Vi dizer que se alimentam de lágrimas! Será possível alimentar-se de sentimentos? Elas sentem os sabores pelas patas. Seus minúsculos ouvidos são suficientes, elas ouvem sons por várias partes do corpo, acredito que também ouvem com a alma! Mas, as borboletas possuem almas? Ínfima não deveria ser a sua pura e transcendental essência.
Aguçados e perceptivos são os sentidos dessas criaturas. Na eminência do perigo se disfarçam, fingem de mortas, essas sábias aladas, camufladas entre folhas tentam sobreviver aos ataques dos inimigos de seu entorno. Mas se morrem, continuam exibindo a delicada beleza da real essência de sua existência.
Cada dia mais indagações sobre elas me surgem, mais curiosidades descubro e mais e mais me encanto…
Porque as borboletas são tão raras e possuem uma vida tão curta? Se elas conseguem colorir e embelezar as nossas estações que oscilam de humor diariamente. Elas não hibernam entre as vicissitudes humanas, do tenebroso inverno das consciências, são capazes de renascer, na esperança de nossas primaveras.
Pesquisei e descobri que existem mais de vinte mil espécies no mundo. Será que é a leveza da vida que as permitem bailar, serem tão especiais sem se preocupar?
Será que elas têm consciência de sua liberdade e da importância da crisálida em suas vidas? Do papel fundamental de sua preservação quando se tornam camufladas e protegidas entre as folhas?
Ah… As folhas! Uma inspiração, um sopro aos imperceptíveis ouvidos que sinaliza o bardo declamado para a salvação das espécies.
Ante esse emaranhado de indagações descobri somente uma sutil e possível resposta;
Uma genuína semelhança entre as borboletas e os poetas!