Espelho, espelho meu
Desde criança sempre gostei de ver o mundo, as coisas, através do espelho. Parece que tudo fica mais bonito e encantador, como se diante dos meus olhos se descortinasse um mundo mágico, novo e bem diferente do mundo real.
Talvez por eu ter sido uma criança sonhadora, sempre me esquivando das duras realidades. Histórias com finais tristes nunca foram as minhas prediletas, sempre preferi o mundo de ilusão, com princesas,príncipes, fadas e seres encantados. Da mesma forma imagens e quadros com personagens tristonhos e cenas melancólicas sempre receberam o meu repúdio.
O espelho de certa forma sempre foi um objeto misterioso e que carrega em sua história fatos fascinantes. Ou não seria um tanto misterioso o fato de puder ver a nossa própria imagem nele refletida?
Esse objeto na sua vida ancestral foi usado como meio para a prática da adivinhação. Não é a toa que na história da Branca de Neve a rainha perversa procura abstrair do seu espelho encantado as verdades que necessitava obter, como sobre a sua real beleza: "Haverá espelho meu alguém mais bela do que eu?"De pronto seu espelho respondia e numa dessas suas indagações acabou por dar o verdaderio paradeiro da pequena princesa: "Beleza maior que a de Branca de Neve que se encontra na floresta na casa dos sete anões,não há! Não há!" Eis aí uma outra utilidade dos espelhos, nos ajudar a dá um tapa no visual ou até mesmo preparar a nossa audição para algum evento importante. Eu, em especial costumava treinar as minhas expressões faciais falando sozinha diante do espelho. Quem nunca?
O fato é que o espelho é algo muito antigo e já foram produzidos com diversas materias-primas como cobre polido, pelos egípcios e africanos, sendo este material associado a deusa Hathor, dona da beleza, do sexo e da magia. Os astecas os fabricava polindo obsidiana, um tipo de vidro vulcânico, pois acreditavam estar estes ligados ao deus Tezcatlipoca, que significa "deus fulmegante".
O que dizer também das diversas superstições, brincadeiras e lendas ligadas ao espelho, como a dos sete anos de azar caso se quebre um, o fato dos vampiros não terem sua imagem refletida nesse objeto ou a brincadeira da Bloody Mary, onde a pessoa com as luzes apagadas e uma vela na mão evoca a dita cuja. Vale salientar que tal brincadeira fica para os corajosos de plantão e funciona melhor numa noite de tempestade. Aliás será por isso que algumas passoas costumam cobrir os espelhos em dias chuvosos?
Seja como for, o fato é que seja para fugir da realidade ou para se deparar com ela, é que o espelho tornou-se essencial. Pelo menos ele é algo concreto e palpável e não corremos o risco de nos afogar caso nos encantemos tanto com a nossa imagem como fez o Narciso. Mas eis uma dúvida que me surge agora, e se realmente o espelho for uma espécie de portal para outro mundo e eu conseguir realizar o meu sonho de viver dentro de um ou do mundo encantador que ele reflete para mim?