CHOREI POR UM ANJO GATINHO
CHOREI POR UM ANJO GATINHO
Qual o sentido da vida no dia de hoje, se aceito ver tudo morrer, e, no entanto, também me incluo?
Nessa noite, estando na rua, como dizem os baianos do interior, eu chorei por um anjo gatinho. Lá estava em frente a um antigo cinema, numa prosa com aposentados, quando um deles me disse: - olhe lá, no outro lado rua, o gato amarelo brigão a passar correndo!
E eu, que ofertava um mimo ao gato malhado que sempre nos acompanha, à noite e naquele lugar, vi que o gato estava atrás de um carro estacionado.
Não é fácil o que se sucedeu, quando ouço o chamado de uma jovem que nos pergunta se um gato amarelo é nosso. E eu lhe respondo que não é. E ela, de modo exaltado e triste, nos diz que o gato está morto.
Foi um susto para todos! Principalmente para quem o viu acabar de passar correndo. Logo constatamos que ele havia sido atropelado e viera em disparada, num repente fatal, de quem estava mortalmente atingido pelo impacto do veículo.
E eis que, sobre o passeio da avenida, agora jaz uma criaturinha a menos entre os vivos e humildes. Morta inocentemente pelo incauto progresso humano, que leva, em seus bólidos de duas ou quatro rodas, a morte a galope instantaneamente, sem a necessidade de ficarmos moribundos, velhos ou doentes, num leito de quarto da casa ou dos hospitais que nos toleram e cobram.
É assim, ó Chico de Assis? Esse gato não mais falará comigo, pois se foi daqui sem destino ou resposta para os miados?
E eu, que me bato entre gatos e cães, entre homens, mulheres e seus aviões, fico pasmo de ver que a morte ainda me dói. Mesmo quando eu nem sei nada mais sobre mim, sobre tu, sobre ele ou cada facho de fogo fátuo, que teima em dizer que alguém ou algo já viveu e não mais estará entre nós.
Agora, um pouco refeito do choque, me vejo a pensar e escrever sobre essa dor, que é a morte irremediável e infalível, que nos permite apenas sermos um fluxo breve ou longo de ar, completo ou vazio, agradecido ou esperançoso, triste ou alegre, como também resignado ao encontro dos dias que se foram ou que ainda virão.
- Adiós, gatito! Hasta luego!
- See you later!