Crônica musical: MULHER MACHO, SIM SINHÔ

E vamos de música!

Composta por Luis Gonzaga e Humberto Texeira em 1946. É um sucesso gravado e regravado por muitos artistas e cantado até no Japão.

A letra traz um retrato do nosso sertão nordestino. Apesar do nome da música ser Paraíba, podia ser Pernambuco, Ceará ou Alagoas, por exemplo, pois todos sofrem com um problema em comum: a seca.

Os primeiros versos já falam assim: " Quando a lama virou pedra e mandacaru secou. Quando a ribaçã de sede bateu asas e voou..." É o retrato do nosso sertão. E que não mudou em quase nada comparado a 1946 ou a 200 anos atrás. Sempre o mesmo cenário de morte em época de seca. Quase nada tem vida. Até o mandacaru seca e as aves vão embora.

Amenizando o problema, temos os carros pipas cruzando os nossos municípios. Mas, qual o preço do carro de ter o carro pipa abastecendo as casas com alguns baldes de água dia sim, dia não? Não falo do valor monetário de 100 ou 200 reais por carro, mas do capital humano e social que é perdido, oportunidades de ter uma vida melhor e mais próspera caso a água não fosse um bem escasso nessa região.

Em alguns municípios essa realidade há esta mudando com a chegada das águas do Rio São Francisco. Que essa água possa alcançar mais sertanejos.

Os versos seguintes da primeira estrofe diz assim: " Foi ai que eu vim me embora, carregando a minha dor. Hoje mando um abraço pra ti pequenina..."

Se na seca o mandacaru seca, a ribaçã bate asas e voa, o nordestino também não fica em sua própria terra. Ele segue para o sul. Vai buscar novo meio de vida, já que, da lavoura não vai da para tirar o seu sustento.

Os paraibanos vão para São Paulo e Rio de Janeiro. Os cearenses vão para a região amazônica em busca da borracha e assim, cada um vai em busca da sua própria sorte, deixando a saudade e muitas vezes, a sua família inteira. Sua esposa e seus muitos filhos. Que só Deus sabe quando se encontrarão novamente.

E, lá longe, com o coração cheio de saudades ele, se tivesse condições ligava, ( hoje, usa o zap) se não, mandava uma carta para sua família ( já não tão comum).

Agora, temos o refrão: "Paraíba masculina, muie macho sim sinhô." Vi alguns comentários sobre essa música falando que Gonzagão foi preconceituoso e que a mulher não pode ser comparada com o homem..."Ela deve ser comparada com ela mesma" coisa e tal. Pessoas, essa música foi escrita em um outro Brasil. O Brasil de 1946. Já isso basta para cessarem os argumentos dos que consideram Gonzaga e Humberto Preconceituosos quanto a mulher. E outra. É uma música de homenagem e não de rebaixamento ou submissão.

A mulher que sozinha cria seus 2,3,4,8,10 filhos... Enquanto o seu marido ganha a vida no sul e sempre que possível envia algum dinheiro para ajudar a manter a casa. Tem que ser muito mulher para ter vivido assim. Por isso a expressão mulher macho. Que era o comparativo que se tinha para fazer com algo forte, valente., o cabra macho.

E, diga- se de passagem, que tanto esse homem e a mulher da música estão em extinção. Em pouco tempo, só existiram nas canções e em nossas lembranças e talvez nos álbuns de recordação.

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 21/10/2022
Código do texto: T7632711
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