Dongo Vai à Escola
Era uma vez um camundongo chamado Dongo, que, em um belo dia, teve que ir para a escola. Dongo tinha medo de sair de sua casa e ir para a escola, mas não tinha jeito, o único jeito que tinha era ir para a escola.
Dongo foi para a escola, e lá, ficou sentadinho em seu canto; Dongo não queria ser visto pela professora, não queria ser visto pelos coleguinhas, não queria ser visto pela diretora, não queria, enfim, ser visto por ninguém. Dongo tinha medo de gato, qualquer gato.
Durante a aula, quando tinha dúvidas, Dongo tinha medo de perguntar para a professora gata — ela poderia ficar tão brava como alguns gatos que ele conhecia —, então Dongo ficava quietinho no seu canto, e levava a dúvida para sua casa; lá ele daria um jeito de resolver aquilo, ou não.
Neste dia, lá na escola, na hora do recreio, Dongo foi para o pátio comer a sua merenda — estava com fome —, e quando abriu a merendeira, seus colegas gatos chegaram perto dele — aqueles gatos famintos — e, comeram o seu pão e beberam o seu refresco, sem pedir, e a merendeira ficou vazia e Dongo ficou com raiva e com fome. Dongo guardou a raiva na merendeira, passou a ter medo dos gatos coleguinhas também, e desde então, nunca mais levou lanche para a escola.
Dongo seria diagnosticado muitos anos mais tarde como codependente, uma doença de gente e não de camundongo. No estranho olhar de Dongo para o mundo exterior, existiam somente gatos — todos eram gatos — e ele, olhando para si mesmo, observava tão somente um sofrido e medroso camundongo, o mais incomum dos camundongos, o camundongo Dongo.
Rio de Janeiro, 18 de Setembro de 2019.