Desde a juventude sempre gostei de escrever, porém, acontecia algo curioso: Após escrever o texto eu mesmo o lia e em seguida rasgava para que ninguém soubesse sobre minhas próprias emoções e o meu mundo interior, pois era sobre isto que eu escrevia. O tempo passou, como passou também o tempo em que rasgava os textos, mas o que sinto continua lá e agora eu escrevo sobre isto e não mais rasgo e jogo ao vento, mas publico para quem desejar ler. O solo de minhas emoções é muito fértil e o que escrevo é basicamente o registro de minha própria viagem através da busca constante da minha singular natureza interior. Num dia destes achei dentro de um velho caderno uma valiosa página, um dos poucos textos do passado que milagrosamente não rasguei e joguei ao vento; indescritível foi a minha alegria...
Hoje Cedo Vi o Pai
Hoje cedo vi Deus, meu Pai Eterno, conforme O concebo. Estava maravilhosamente vestido de vermelho na figura de um Flamboyant. Não havia como não vê-lo, percebê-lo, senti-lo... Por onde quer que eu andasse, independentemente do caminho que eu seguia, ele estava sempre lá convidando-me à meditação e contemplação.
Olhei para Ele maravilhado. Senti o perfume de Suas flores, o frescor de Sua sombra, a beleza de Sua presença, a fantástica simplicidade do Seu ser... Parei, toquei um pouquinho Nele com todo o carinho do mundo, deixando envolver-me pela abundância de paz que Ele me transmitia. Percebi que meus irmãos insetos ali presentes sentiam a mesma coisa, agindo como eu numa gostosa e completa entrega ao carinho do Pai Onipotente, ali presente na figura daquela majestosa Árvore...
Segui meu caminho, mas a imagem da Presença ficou gravada em mim pelo resto do dia, da semana, da vida... Fui andando e agradecendo com júbilo no coração e uma alegria infinita na alma, o privilégio de ter visto, sentido, tocado e amado junto com meus irmãos da natureza, o Pai Celeste vestido de Flamboyant vermelho num lindo dia de primavera.
Sorocaba, 08/11/1996.