Melhor idade.
Estou hoje com sessenta e oito anos. Grande parte das mulheres que conheço amigas ou não, sempre se recusam terminantemente a divulgar sua própria idade. Nunca tive esse problema. Sempre assumi meus anos de vida com muita tranquilidade. Não quero com isso dizer que adoro “envelhecer”, claro que não. É impossível acordar todas as manhãs, se olhar no espelho e não perceber a passagem do tempo, mas, confesso que o aparecimento das indesejadas ruguinhas, a falta de colágenos que provoca a tão temida flacidez que nos faz amolecer como uma fruta madura não me tiram do sério, assim como não me tiram a vontade e alegria de viver, pois as encaro como provas de que ainda estou viva. E é por isso que há alguns meses, com muito tempo sobrando por causa da aposentadoria, senti necessidade de voltar à academia de ginástica, não só para “ter o que fazer” como também para sair um pouco do sedentarismo, fazer novas amizades e me sentir mais viva ainda.
Nada como uma boa academia pra gente se redescobrir. Praticando exercícios, em meio àquela animação na companhia de mulheres jovens e também senhoras de meia-idade como eu, percebo e sinto no corpo e na mente como vale a pena viver. Afinal, como diz a expressão latina “mens sana in corpore sano". E é isto que estou tentando fazer.
Ao ver aquelas jovens de corpos bem feitos confesso que me bate uma saudade imensa do meu corpo de mocinha e digo com sinceridade que dá uma vontade danada de voltar a ter aquela cinturinha de pilão que nunca tive. Então, de repente a ideia de me submeter a uma nova cirurgia plástica se instala na minha cabeça e quando uma ideia entra na minha cabeça é difícil de sair. E assim, os dias vão passando e a ideia fixa persiste. Converso com umas amigas, converso com outras, ouço a opinião de umas, pondero, ouço a opinião de outras, mas a ideia continua lá, martelando em minha cabeça.
Como eu gostaria de ter a minha cintura de volta. Ficava sonhando.
É verdade que não sou mais jovem fisicamente como gostaria, mas, meu espírito, esse, parece que parou no tempo, me sinto com trinta ou quarenta anos. O meu humor, a alegria de viver, o sorriso fácil, a vontade de dançar e de me divertir não acabaram com a passagem dos anos.
Mas, por incrível que possa parecer, um simples texto de Lya Luft, escritora pela qual tenho a maior admiração e que me influenciou muito na escrita de meus próprios textos, me fez tomar a decisão que eu tanto adiava. O título do texto era “Mudança” e nele, a autora nos mostrava que “a fonte da juventude eterna” não está necessariamente nas inúmeras cirurgias estéticas que façamos, mas, nas mudanças que nos propomos para melhorar nosso estilo de vida. Como ela mesma dizia no texto - e que eu estou pronta a concordar - as cirurgias estéticas não dão conta de tudo. Não basta você se repuxar toda se não mudar sua cabeça, seu comportamento diante da vida e da passagem do tempo.
Era isso que eu precisava ouvir.
Após ler esse texto de Lya, cheguei à conclusão de que deixar minha cintura mais marcada, a essa altura do campeonato, de maneira nenhuma iria fazer com que eu me sentisse mais jovem do que me sinto. Abri bem os olhos e a mente e vi que a minha juventude não estava nas transformações que eu possivelmente viesse a fazer no meu corpo ou no meu rosto, mas, nas mudanças que eu pudesse fazer na minha cabeça. Percebi que a minha felicidade futura, o meu bem-estar, não vão de modo algum estar nas curvas do meu corpo de jovem senhora já na “melhor idade”, mas, nos projetos de vida que eu deverei traçar a partir deste momento para atingir as metas a que me propuser para continuar vivendo da melhor maneira possível os anos de vida que ainda me restem.
E sendo assim, estou na fase das idosas com a alegria que é parte intrínseca do meu ser, sendo feliz e procurando fazer também felizes as pessoas que fazem parte de minha vida e todas as outras que estão ao meu redo