Deixa o Menino Sebastião, Deixa o menino...
O Agricultor urbano preparava-se par ir embora para sua casa, fez o que tinha que fazer no bosque; foi levando terra nos sacos para as próximas mudas, recolheu um pouco de plástico deixado pelos inconsequentes pelas bordas da mata, e como sempre, estava bastante contente com o trabalho realizado.
Levava também no carro suas inseparáveis amigas, a enxada e a cavadeira, com a primeira ele capinava, e com a segunda fazia os buracos para plantar suas árvores. Ele é mesmo assim, contenta-se com estas coisas simples da vida, é simples, brejeiro, gosta de pisar no chão, subir nas árvores, tomar banho de chuva, admirar o sol, a lua, o mar, os rios, as plantas, os bichos, as pessoas que passam, tudo enfim... Às vezes, do nada, ele ri; ri de si mesmo, do seu jeito, e de como as coisas sempre se ajustam.
Esta agora pensando naqueles dias passados em que levou a sua namorada na casa do pais pela primeira vez. A adorável moça agradou a todos; a mãe do agricultor ficou muito orgulhosa do filho ter levado lá uma pessoa tão afável, tão simples, tão sincera e cativante, os irmãos ficaram também felizes, afinal de contas, aquele garoto esquisito — segundo a visão deles —, estava finalmente namorando, já estava passando da hora segundo eles, é claro, do caçulinha da mamãe arrumar uma namorada.
E o pai do Agricultor, o que teria achado? Foi cortes com a moça, sua futura nora, e quando ela foi embora perguntou para a mãe do Agricultor: "Mas mulher, como vai ser? Devemos falar com a jovem que o nosso menino vive subindo em árvores, fala com o cachorro, e até dorme na casinha dele, enxuga as galinhas do quintal com a toalha depois das chuvas, embrenha-se para o mato todas as tardes, ficando lá até ao anoitecer; às vezes fica horas e horas meditativo, não falando com ninguém, vive no mundo da lua, toma banho no brejo, fica um longo tempo brincando feliz com estes soldadinhos de plástico ordinário; faz seus próprios brinquedos com pedaços de madeira...".
"Devemos dizer para ela que ele gosta tanto do cheiro do estrume das vacas, que passa horas solitário jogando futebol de botão, que passa manhãs inteiras, nos dias de outono, no alto dos pastos, sozinho, soltando suas pipas; que chora quando eu parto em viagem com o caminhão, e que chora novamente quando eu retorno, que possui somente uma bicicleta Caloi vermelha caindo aos pedaços, que não puxou a mim, caminhoneiro experiente, pois não sabe dirigir um carro, não sabe a simples diferença entre uma primeira e uma segunda marcha, enfim, que ele é assim tão solitário, tão esquisito, tão matuto e caipira?".
A mãe do menino estava na cozinha lavando as vasilhas do café da tarde, bem tranquila como sempre. Parou, pensou, olhou para o marido carinhosamente e falou:
— Deixa o menino Sebastião, deixa o menino...
Rio de Janeiro, 11 de Setembro de 2014.