O CIO SETEMBRINO DA CADELA ATENA
Na mitologia grega, Atena era a filha preferida de Zeus. Aqui, pela vizinhança, é uma cadela cinza, esbelta, bem maior que os meus cãezinhos, que vive numa casa com pátio e um portão gradeado de ferro. Há alguns anos, por entre as grades, Atena e Pelé, meu cusco sem qualquer pedigree, para não dizer vira-lata, atracam-se amorosamente, com invejável empenho. Deixo rolar a lambeção por uns dez minutos, com a participação ardorosa também do poodle Chopinho, que não é bobo. Mas Pelé é o mais arrebatado, lambe tudo o que pode, desde patas e pernas da cadela, além de dar-lhe beijinhos na boca, olhos, orelha, em tudo, enfim, o que alcança. A cadelinha adora e chega até a rebolar. Tem de ter força no braço para acabar com o enleio e prosseguir passeando. Não temos interesse na cruza, de modo que só posso oferecer-lhes as preliminares, mas já está de bom tamanho. Fico feliz por eles, é claro, mas é cansativo e toma um bom tempo. Quando, tarde da noite, passo na frente da referida casa, Pelé chora e chama, mas Atena já está em repouso para o dia seguinte. É um ritual que merece registro.