Já se faz alguns ontens.

 

     Fui criado em meio às baladas de músicas lentas e de letras tão tristes! Onde as paixões adolescentes tinham suas vazões platônicas…

     Olhares fundos e tristes, corpos minguantes e uma imensa, mas implícita esperança, mantida por sonhos utópicos, que às vezes emergiam e surpreendiam…

     Ídolos tão distantes, desfilavam por gramados e palcos, aumentando suas importâncias nos pueris ideários.

     Os primeiros amores… inesquecíveis e às vezes impossíveis, quando o coração de um pupilo, sonhava com a mestra do jardim da infância, tão precocemente ignorado e sofredor…

     Eram tempos difíceis, pobres os circos de lonas carcomidas pelo tempo, e os alto-falantes dos parques abafavam a “hora do Angelus” ao ecoarem  ao longe, as modinhas antigas, e as luzes traziam mais encantamentos, as atrações com afã eram aguardadas…

     As noites envolviam com seus véus os jovens casais, a desafiarem escândalos, em ousados e comprometedores beijos… E como era dificultoso um beijo, até o providencial invento do “pera, uva, ou maçã?”, mais tarde, foram os bailinhos, onde os casaizinhos balançavam lentamente os seus corpos acoplados e sem quase sair do lugar.

     Filmes, novelas, desenhos animados, éramos como lobos encantados pela lua, ante tanta novidade televisiva… e o saudosismo aflora, agora com mais frequência, numa espécie de “Túnel do tempo”, quando e onde tudo, tudo foi tão bom ! Mas  “E o vento levou…”, para uma praça, de lembranças tão longínquas, tão antigas, inaugurada e perpetuada, com o incontestável nome de “Saudade”.