Prato cheio não combina com velhice

No pós-adolescência eu passei por uma fase de glutão: andava muito pelo centro de Belo Horizonte e tinha dia que nem almoçava nem jantava, substituía as refeições por salgados e doces das lanchonetes e padarias.

Engordei bastante e o intestino desenvolvia mal, mas tive a esperteza de procurar informações (via mídia) e corrigi meus hábitos alimentares.

Mais à frente ingressei na Escola de Veterinária da UFMG e, nas aulas de fisiologia e nutrição, entendi a teoria da alimentação correta; lições que também foram essenciais no meu trabalho dentro do extinto Hipódromo Serra Verde, tanto na administração de treinamento quanto no tratamento da saúde de cavalos de corrida (os equinos são ainda mais sensíveis a erros de nutrição do que os humanos).

À medida que os anos e décadas foram passando tive que reduzir a quantidade de calorias em minha alimentação para manter um peso adequado.

E sei que, quando a velhice chegar, terei que reduzir ainda mais: a necessidade calórica dos idosos é, comparativamente, muito baixa.

Esses conceitos sempre me vêm à mente nos restaurantes de comida a quilo, quando passam por mim velhos e velhas com prato abarrotado de comida, quase derramando.

O organismo não precisa de tanto. É pura gula.

O exagero tem algo de psicológico: é como se o dono do prato dissesse “estou velho/velha, tenho que aproveitar as coisas boas da vida”.

Uma situação em que satisfazer o centro de prazer do cérebro torna-se mais importante do que a lógica da fisiologia (hedonismo é um bom nome para o comportamento).

Mas nossos corpos não foram programados para eliminar o excesso de comida; a gordura gruda na parede dos vasos sanguíneos dificultando a circulação e, com frequência, provocando bloqueios.

Isso sem falar em outras consequências, como o diabetes e a gota, doenças dolorosas.

O prazer é ilusório, imaginoso, mas as consequências não.

E a procura do prazer tem, na origem, um sentimento bem negativo: a resignação com a aproximação da morte, uma ausência de perspectivas e de objetivos.

A combinação de um sentimento pessimista com um comportamento pouco saudável não é positiva para os seres humanos, especialmente para este extenso grupo; e as estatísticas garantem que o percentual dos idosos tende a aumentar mais e mais.

(texto publicado originalmente em 11/07/2012)