CANTIGAS DE RODA NO VELHO MATO DA LENHA*
O velho Mato da Lenha, em noites passadas e distantes era um vilarejo isolado, distante do centro, que os moradores chamavam de cidade. Tinha iluminação de lâmpadas incandescentes, bruxuleantes, sustentadas nos postes de madeiras diversas, tinha até de candeia. Em volta, uma profunda escuridão nas áreas adjacentes. As ruas de calçadas acinzentadas entremeadas de vegetação rala, lavadas pelas chuvas da estação. As casas todas iguais, com grandes lotes cercados de arame farpado ou tela, tinham alpendres simples de onde os adultos, sentados em bancos de madeira ou rústicas cadeiras, apreciavam as cantigas de roda, cantadas pela meninada inocentemente, meninas e meninos de mãos dadas em roda a entoarem, entre outras: “Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar, o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou” “ ó que noite tão bonita, ó que céu tão estrelado, quem me dera eu ver agora, o meu lindo namorado” “ se esta rua, se esta rua, fosse minha, eu mandava eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, para o meu, para o meu amor passar”. E muitas outras cantigas se sucediam, mas quando a lua prateada parecia atingir o topo do céu, os adultos ordenavam a que todos se recolhessem. E a meninada corria para suas casas... era hora de lavar os pés nas bacias de latão. Era hora de dormir e sonhar, naquelas noites tão distantes, que o tempo levou... mas a memória, no coração guardou.
*O Mato da Lenha é hoje o Bairro Salgado Filho da Região Oeste de Belo Horizonte-MG.