CRÔNICA MUSICAL: CHUVA DE HONESTIDADE- MÚSICA DE FLÁVIO LEANDRO

Lavando os pratos aqui em casa, peguei o celular e procurei qualquer rádio local aqui de Sousa. Na primeira que encontrei, uma criança estava cantando uma música que eu ainda não a tinha ouvido. Uma música bem nordestina, falando da seca, carro-pipa e de honestidade. Infelizmente não pude acompanhá-la com atenção, estava ariando uma panela.

Hoje, novamente lavando os pratos, procurei uma música para fazer o tempo passar mais rápido e, na primeira indicação do Youtube eu cliquei. Achei familiar. E era a música que eu ouvi na rádio outro dia. Quem estava cantando dessa vez era o próprio compositor: Flávio Leandro.

O compositor Flavio Leandro é um dos fortes nomes do Nordeste e do Brasil na área musical, mas essa música dele eu não a conhecia: Chuva de honestidade.

Ela começa falando de um dos elementos que mais identificam o sofrimento da seca nordestina, o carro-pipa. Digamos a verdade, a indústria do carro-pipa para ser mais específico.

Já foram feitas reportagens de cunho de denúncia sobre esse sistema de abastecimento, mas nenhum passo foi dado para mudar essa realidade. Não há uma cidade no cinturão do polígono da seca que não tenha dezenas desses instrumentos de imposição de poder. Isso mesmo, por traz desse comércio há poucas pessoas que seguem donas desses carros e que lucram milhões em contratos com as prefeituras, e como não seria de se espantar, desconfio da lisura desses contratos. Não estou acusando ninguém, mas em um Estado onde havia fraudes contratos de ambulâncias, um bem tangível, imagina o que não pode ser feito com a água, que literalmente escorre pelas mãos?!

Entre outros elementos que o poeta usa na música ele faz a comparação do nossos Nordeste com o País Israel. E a forma como ambos lidam maneira tão diferentes com o um problema em comum: a seca.

Em Israel chove 348 mm por ano. Em Picuí-PB, cidade na qual tive a honra de trabalhar por 4 anos, tem a precipitação pluvial de 523 mm anuais e em Sousa-PB, onde estou agora, chove, até hoje, em 2022 quase 1000 mm. Conversando com um amigo, Toinho Pordeus, ele disse que aqui em Sousa chove mais que em Paris. E realmente é verdade. Lá na Cidade Luz, chove pouco mais de 700 mm anuais.

Com Paris não dá para fazermos maiores comparações, mas com Israel, dá. Então, por que Israel consegue plantar no deserto e aqui há 500 anos não conseguimos? Israel é um país autossustentável na questão da agricultura. Praticamente não depende de entrada externa de alimentos para sua sobrevivência. Sabe como conseguiram? Investimento em pesquisa e tecnologia e, trabalho cooperativo.

Aqui no Brasil temos a Embrapa e cada estado talvez também possua a sua própria instituição de pesquisa agropecuária, mas parece que, apesar dos avanços já conseguidos, ainda estamos longe de sermos protagonistas na questão agrícola no nosso sertão. Falta recursos para fomentar novas pesquisas. Sem falar na saída de nossos cérebros para o exterior onde lá são mais valorizados.

Pelos menos, parece que a falta de água não será o maior dos problemas daqui por diante. Com a chegada das águas do São Francisco a outras partes do Nordeste temos Açudes cheios e sangrando, espero que essa água venha junto com esperança de dias melhores para o sertanejo. Carro pipa nunca mais! Só falta agora vir a tecnologia para esverdear o sertão com suas plantações e por comida cada vez mais em nossos pratos e deixar o sertanejo aqui na sua terra ao invés de procurar uma oportunidade longe da sua terra.

Até a próxima!!!

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 06/07/2022
Reeditado em 06/07/2022
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