O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO
Todas as interações são indubitavelmente possíveis, independentemente do tempo existencial de seus agentes. Elas só acontecem pelo fato de se atraírem e bailarem num tom maior, num horizonte mais vasto, embora sejam ocorrência mais rara, o que, eventualmente, pode despertar desagrado às cartilhas vigentes, por diversas razões. Isto é indiscutível quando se percebe a dinâmica e o fluxo da vida plena, tão rica em metamorfoses. A questão, aqui, é outra e nada tem a ver com sentimentos. Pode ocorrer entre pais, filhos, amigos, colegas, em qualquer tipo de vínculo. É o hábito, o gosto, os ideais, o humor, a valoração de eventos e de fatos, inclusive a nostalgia. Absolutamente normal. Ninguém poderá exigir que o parceiro ache engraçado ou emocionante qualquer acontecimento, quando a diferença de idade é de trinta anos ou mais. Até pode acontecer, mas não é corriqueiro, salvo eventos que tenham sido de universal e forte impacto. Uma sólida amizade é bem possível entre alguém de trinta com outra pessoa perto de noventa, mas, neste caso, a sintonia será restrita, necessariamente, e outros fatores preencherão as lacunas culturais e de costumes. Gostar de uma música, de um filme, de uma atitude, de uma dança, de um pensamento tem a marca de época. Isto divide gerações, embora não as separe. Certamente, influencia em várias coisas, mas torcer para clubes de futebol diferentes, rivais, ou mesmo por partidos políticos em disputa pode ocorrer na mesma faixa etária, o que não é apocalíptico. Saber curtir momentos significativos é incorporar o adágio: o tempo é o senhor da razão, no mais, a gente vai ajeitando. Ademais, é preciso registrar claramente que o passado não passou totalmente e que a memória de ontem é o esteio de muito que flui hoje em dia.