O PSEUDONIMO DA ARTE

Logo eu, tão perfeccionista e insegura, resolvi participar de um concurso literário. Fiz isso, justamente para vencer meus medos diante deste mundo novo que adentrei, a literatura. E lendo as instruções do regulamento que exigia que cada autor criasse um pseudônimo para si, me veio a ideia de escrever algo que pudesse representar o que a arte produz em mim. O título veio daí, do regulamento.

Dizem que perfeccionismo causa muito sofrimento, é verdade. Nem bem comecei a escrever e já estou aqui, sofrendo. Não somos iguais, e a beleza da arte está exatamente nesse lugar. Não quero permanecer na mesmice. Decidi fazer diferente.

Quando criança costumava ouvir os adultos se referirem a minha irmã dizendo “ Essa menina é uma artista” Um dia perguntei para minha mãe porque diziam isso. A resposta foi imediata, era criativa. Parecia ser algo bom, porque todos a admiravam por isso. Eu também fazia minha arte, mas as escondidas. A diferença é que a arte dela, tinha destaque, ela era vista. Eu também era criativa, e queria ser artista. Mas no meu ritmo, do meu jeito e não no ritmo e jeito dela. Afinal, minha arte era diferente tanto no fundo quanto na forma.

Minha mãe também era artista, trabalhava com a arte de ensinar, era professora. Lembro que desde muito cedo nos cobrava, letra bonita, livros sem orelhas, notas altas. Eu fiz o mesmo com minha filha. Algumas coisas até deram certo, tipo o uso dos cadernos de caligrafia, nossa letra é perfeita. Mas outras coisas , nem tanto, acabaram nos levando para um caminho de estagnação, resultando em frustrações na vida adulta. Sabe aquela sensação de estar faltando algo, um vazio. Era exatamente essa a sensação que eu tinha e as vezes, ainda tenho.

Descobri que isso é devido ao abandono de nossa própria vida. Hoje, entendo que acabamos fazendo isso de forma inconsciente, que eu estava usando máscaras para ser aceita, me sentir amada e acabei deixando de lado a minha verdadeira essência. Não quero mais viver de aparências. Preciso ser autora da minha própria história, da minha própria vida, da minha própria arte e sei que ela esta em mim..

Afinal, não importa onde o artista esteja, a arte que nele habita com ele sempre vai estar. Cada artista tem seu próprio DNA. Ela é própria de cada indivíduo, arte é arte em sua essência. Não tem nacionalidade.

Imaginem um brasileiro artista na China que resolve fazer sua arte com elementos daquele lugar. Certamente ele vai elaborar sua arte conforme sua visão, sua percepção, seu dom, independentemente dos elementos utilizados. O que vamos ver no final será a arte expressa pelo olhar desse brasileiro. Sendo assim. esta arte não é chinesa e nem Brasileira, portanto não deveria ser identificada sendo deste ou daquele lugar. Não é mesmo?

Falo isso para destacar a importância dos protagonistas do movimento artístico e literário da semana da arte moderna, por terem rompido com os padrões acadêmicos europeus, nos tornando mais autorais a nível de nação. Foi uma grande conquista, mas para mim, isso não basta, pois o que deve igualmente ser rompido são os padrões de consciência que limitam a nossa criatividade diante das letras e tintas que nos compõe enquanto artistas.

Hoje, investindo em meu autoconhecimento, com uma consciência bem mais ampliada, percebo a necessidade emergente de romper com esses padrões de consciência que nos impedem de ter o espaço de liberdade tão necessário para uma arte e uma vida mais criativa, feliz e saudável. Precisei adentrar meio século para descobrir isso e poder caminhar livremente com minha arte. Consegui romper com padrões que me aprisionavam,

Porém aacabei de descobrir que não basta romper padrões, também é preciso ordem. Digo isso, porque percebi que devo colocar ordem nas letras e tintas da arte que aqui produzo para não me perder no texto, ou seja, devo voltar para o regulamento e para a regra do tal pseudônimo.

Então foi pensando em tudo isso, na minha arte, na arte da minha irmã, no movimento artístico e literário, na arte acadêmica e autoral, na grandeza das artes, sejam elas nacionais ou não, no grande legado deixado por talentosos artistas e memoráveis escritores, na ordem desta minha humilde crônica, que nem sei, se é ou não, uma crônica, para isso precisaria ter uma conversa com Rubem Braga como fez Clarice Lispector, mas só sei dizer que foi meio a estas reflexões, que me veio à mente, a obra da criação e com ela o desejo de encontrar um pseudônimo para representar a arte.

E somente através do autor da arte, do artista e da nação é que poderia brotar esse pseudônimo, porque ele é o próprio amor, e só ele tem o poder de nos tornar um ser mais autoral. Sendo assim, não existiria melhor pseudônimo para definir a arte, do que “Amor Divino”. É isso. Bingo! Estou feliz, enfim encontrei um pseudônimo para a arte.

Asa Dourada
Enviado por Asa Dourada em 25/06/2022
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T7545253
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