SUBTEXTO
Li casualmente no encarte de fim de semana de ZH um texto muito bom da nossa Martha Medeiros, que, não preciso dizer, é ótima escritora gaúcha. Quero comentar que o enfoque da maioria das obras literárias (contos, crônicas, romances) submete-se às peculiaridades biológico-existenciais de seus autores: há diferenças mais ou menos sutis entre abordagens masculinas ou femininas. Sei que, em meus textos, revela-se frequentemente minha condição de homem; sempre achei o mesmo tom com relação aos belos escritos da Martha, que, aliás, não conheço pessoalmente. Mas há temas que transcendem tais circunstâncias, ao menos no fundamental. Refiro-me ao AMOR É O JEITO: trazendo à baila Annie Hall, de 1977, de Woody Allen – Noivo Neurótico, Noiva Nervosa – “o casal engata um papo cabeça, numa evidente tentativa de seduzir um ao outro. Enquanto isso, na tela aparecem legendas revelando o que cada um está, na verdade, pensando naquele exato instante. O debate entre os dois é sobre arte, mas Alvy está preocupado com outra coisa: “como ela será pelada?”. E Annie, parece muito segura de suas opiniões, mas, no fundo, se pergunta: “será que ele está me achando inteligente?”. E por aí segue o baile. Enfim, é uma das genialidades do cineasta que sabe captar as sutilezas do torneio masculino x feminino. Quantas palavras, atitudes, iniciativas nossas não significam, efetivamente, mensagens deliberadas ou inconscientes de sedução? Desde a roupa, o tom de voz, o mexer nos cabelos, o volteio da dança não significa intenção real de agrado? O subtexto, até da literatura, às vezes é o que há de mais poderoso e importante, difícil é a correta interpretação. Digo isto porque há movimentos universais, inespecíficos, típicos de cada gênero. Apenas creio que no processo de sedução tudo é mais caloroso e expressivo, mas a dúvida persiste.