À BEIRA DA LAREIRA

(PEÇO DESCULPAS POR NÃO ESCREVER HÁ MUITO. AS RAZÕES SÃO DIVERSAS, INCLUSIVE A VIS

HÁ MOMENTOS QUE POR MAIS QUE O TEMPO PASSE SÃO RETRATOS EMOLDURADOS DE UM TEMPO DOURADO. PODEM SER PASSADO, PORÉM SÃO ALICERCES DE SENTIMENTOS QUE, RESGATADOS DO INFINITO, TECEM O HOJE PELA TERNURA QUE EXALAM E QUE PARECE ABRAÇAR-NOS.

UM DELES, QUANDO ERA CRIANÇA, É VIDA QUE ME DÁ VIDA A TODO INSTANTE. MINHA MÃE, MEU PAI, MEU IRMÃO E EU, À BEIRA DA LAREIRA, ENQUANTO, LÁ FORA, A NEVE CAÍA. O PÃO ASSANDO NO FORNO DE PEDRA PUNHA NO AMBIENTE UM AROMA INESQUECÍVEL.

NA SIMPLICIDADE DA CASA DE PEDRA, À BEIRA DO FOGO, O UNIVERSO PARECIA PARAR. FALÁVAMOS DE TUDO. RÍAMOS, CONTÁVAMOS HISTÓRIAS CUJAS PALAVRAS AINDA OUÇO. O CARINHO SE TORNAVA TÃO CONCRETO . ERA SINÔNIMO DE FELICIDADE EM SUA MAIOR DIMENSÃO.

EM UMA DESSAS OPORTUNIDADES, MEU PAI CONTAVA HISTÓRIAS DE SUAS VIAGENS SEMPRE COM UMA VOZ TAO MÁGICA QUE EU MEU IRMÃO (APESAR DE BEM MAIS VELHO) NOS SENTÍAMOS LEVADOS ÀQUELES LOCAIS E, QUANDO ELE TERMINAVA, OUTRA PEDÍAMOS, O FOGO CESSAVA. COLOCÁVAMOS MAIS LENHA. ERAM NOITES SEM IGUAL.

CONTUDO, FOI À BEIRA DA LAREIRA, QUE VI O ROSTO DA MINHA MÃE BANHADO EM LÁGRIMAS, NO MOMENTO EM QUE MEU PAI, DEPOIS DE UM DESENTENDIMENTO NA ALDEIA - JÁ QUE ERA UM LÍDER - DISSE QUE NÃO ESTAVA BEM DE SAÚDE E QUE PRECISARIA IR PARA HOSPITAL EM COIMBRA.

AINDA À BEIRA DA LAREIRA, JÁ SEM A PRESENÇA DE MEU PAI, SOUBE QUE ELE PIORARA. MINHA MÃE, TÃO TRISTE, DIZIA QUE EU IRIA VISITÁ-LO. DE FATO, EU FUI.

ELE ME DEU UM BISCOITO MAIZENA(A MARCA É COM Z) E UM ÚLTIMO ADEUS, VISTO QUE AO OUTRO DIA FALECEU.

MAIS UMA VEZ, À BEIRA DA LAREIRA, TÃO CRIANÇA, CHOREI... CHOREI PORQUE PRESENCIEI O ENTERRO DE MEU PAI PASSAR, SEM QUE PUDESSE PARTICIPAR, JÁ QUE, EM PLENA ALDEIA, EU ERA A IRMÃ BASTARDA.

OUTRAS VEZES, TRÊS PESSOAS, MINHA MÃE, MEU IRMÃO E EU, FICAMOS JUNTOS, À BEIRA DA LAREIRA. SÓ O SILÊNCIO, ENTRETANTO, PREDEMINAVA.

A FELICIDADE TINHA LEVADO EMBORA SUA CADEIRA CATIVA PARA SEMPRE.