73- CRONICANDO: Biografia

Estou morrendo. Certo, é uma maneira diferente de começar uma biografia. Geralmente eu começaria que no dia 31 de março uma vida veio ao mundo, que encheu de alegria a casa de uma Maria e de um João... Mas, é que estou meio que sem tempo. Então vou direto ao assunto: estou morrendo.

Mas, não estou morrendo tão rápido quanto um terminal, mas também tenho a certeza de que não serei um octogenário também. Não me incomoda o não viver tanto, só não estou tão acostumado a não ir um pouco além. Se fosse pra pedir, faria igual ao Rei Ezequias (acho que foi ele) que ganhou mais 15 anos de vida quando já estava no leito de morte. Até que não seria tão ruim. Estou com 35, mais 15, 50! Ainda daria para ouvir no velório os amigos me olhando e dizendo: "tão jovem." Mas, é melhor que morrer aos 35.

Tenho cinco filhos em casa, um no céu e um sobrinho que criamos como filho. 10, 03, 02,02,02 e 1 ano. Com mais 15, daria para ver o meu sobrinho se formando, trabalhando e talvez até eu já fosse avó/tio. O Vicente estaria saindo do ensino médio. Os tri ainda no fundamental ou começo do médio, e o Pequeno Inácio com então 15 anos, a mesma idade que perdi o meu pai.

E por falar em pai, pensa numa ironia da vida. Ele morreu sem querer morrer também. Ele, da velha guarda, bebeu e fumou até quase morrer, só parando para virar crente. Só então o corpo teve um descanso de tantos exageros, mas, o estrago já estava feito. Morreu cardíaco.

Eu também vou morrer cardíaco, segundo os meus últimos exames. Logo eu que nunca fumei, bebi ou usei qualquer tipo de entorpecentes. Mas, fui vítima da doença do milênio: o COVID 19. Isso, fiquei com uma sequela no coração. E, por ironia do destino, corro risco de morrer (em breve ou um pouco mais demorado) da mesma doença que matou meu velho pai: insuficiência cardíaca.

Meu médico cogitou transplante, mas meu quadro atual melhorou, então a título de hoje, não teria o coração renovado, mas não estou livre dessa possibilidade no dia de amanha, ou melhor daqui a alguns minutos, porque o coração, pode gritar a qualquer momento.

Já disse para quem tinha de dizer que os amo. Aos que eu não tive tempo de dizer, sintam-se amados por mim. Se eu viver além do que as estatísticas me dizem que viverei, e alguém me fizer raiva, eu corto da lista de amados e pronto. Por enquanto, quero morrer em paz, hoje ou daqui a 15 anos.

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 02/06/2022
Reeditado em 26/12/2022
Código do texto: T7529324
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