Meu gato Hércules
Há algum tempo atrás, nós tínhamos um gato.
Chegou ainda filhote.
Amarelado com pequenas listras brancas.
Não era bonito... Ao contrário, era um bicho mal encarado.
As pessoas tinham até medo de se aproximar do estranho.
Só depois que cresceu, resolvi dar-lhe um nome.
Por ser parrudo, comecei a chamá-lo de Hércules.
Passava as noites nos telhados vizinhos, fazendo algazarra.
Nas manhãs, retornava com o ar de realeza.
Eu olhava pra ele com cara de indignação.
- E aí, bichano? A noite foi boa, né?
Ele me olhava com arrogância e parecia me responder apenas com um " É!"
Voltava para o aconchego de sua cama e passava o dia dormindo. Só por vez levantava-se espichando o corpo todo, comia sem pressa e voltava pra cama.
Quando o sol se punha, o bicho saía, contando os passos até o telhado e a bagunça retornava.
Na manhã seguinte, retornava triunfante.
E eu insistia em chamar sua atenção:
- Hércules, qualquer hora a casa cai pro seu lado.
O danado simplesmente me ignorava com um simples " É!"
Foi numa manhã de sábado que me levantei para os afazeres e estranhei a falta do gato.
Pensei até que o felino tivesse desaparecido, mas depois de 4 dias o Hércules voltou.
Tinha um pedaço da calda faltando, a sua cor era indecifrável e a orelha esquerda quase toda dilacerada.
Apontei o dedo e disse firme, como se eu fosse seu pai:
- Eu bem que te avise que um dia destes você iria se dar mal. Apanhou muito, né?
Ele, ainda mais feio, me olhou pelo canto dos olhos e pareceu ter respondido apenas com um simples " É! ".
O bicho não teve mais ânimo para suas aventuras e ficava o tempo todo em sua cama.
Morreu de velhice, numa tarde fria.
Apesar de muito estranho, eu gostava do Hércules.
Uma vez eu imaginei ele no céu dos gatos, todo pomposo e perguntei:
Então, Hércules, continua folgado?
E ele me responde com um simples:
- É !
Sandro R C Costa
Boa noite