Preciso escrever...

 

 

 

Preciso dizer, falar, do que me toca a mente, que me faz querer entender melhor, para aceitar o que me acontece, para não cometer algum pecado, algum erro... Preciso sentir, entender, porque o que hoje estou vivendo, vejo acontecendo no mundo, todos os dias.

 

Por um bom tempo vivi na abstinência sexual. Depois do fim de dois casamentos, com a saúde debilitada, mais um trabalho que, com o passar dos anos, dos problemas e estresses enfrentados, tornou-se exaustivo, pesado... Menopausa e tudo o que isso pode causar na vida de uma mulher, resolvi não ter uma coisa a mais a administrar: um homem, um marido, um casamento...

 

E foi muito importante a decisão de não querer ter, naquele momento,um relacionamento amoroso para administrar. Assim, durante esse tempo, de aproximadamente doze anos, pude cuidar de tudo o que me afetava e chegar a um ponto de equilíbrio que hoje me faz estar bem melhor.

 

A aposentadoria foi crucial para eu estar, hoje, numa condição física e mental mais saudável. Estou bem!

 

Sim, estou bem! Porém a vida que merece ser vivida, é cheia de desafios e oportunidades, que podemos aceitar e enfrentar e seguir, e vencer ou... se fechar dentro de casa e passar os dias à brancas nuvens, assistindo as aventuras que os filmes nos podem proporcionar.

 

Mas ter uma mente analítica, pensadora; ter uma mente que cobra, que sonha, que não se satisfaz com a mesmice, nem com o lugar comum, trás alguns transtornos de comportamento, porque já a passividade cotidiana não é só o que preciso... Então minha mente cobra, e pensa, e repensa o que está me acontecendo, o que posso fazer para resolver, se é bom, ou o que posso fazer para melhorar essa ou aquela situação.

 

É claro que tem coisas que podemos, e devemos melhorar, principalmente no que diz respeito às nossas convivências, nossos relacionamentos com as pessoas com as quais coabitamos no nosso dia a dia. Porém, tem relacionamentos que podem trazer em seu bojo alguma questão problemática, alguma coisa que pode vir a ser bom, ou ruim, a depender do ponto de vista ou, mesmo, do lado em que se está, de modo que pode acontecer algum ponto de conflito, de necesidade de tomar alguma decisão, ou mesmo de deixar seguir, mas com tranquilidade, sem culpas...

 

Que quero dizer com isso? Tem relacionamentos conjugais que estão na berlinda, onde muitas das vezes apenas o senso de responsabilidade, ou as convenções sociais, fazem com que se continue, porém os envolvidos já não sentem ligação verdadeira, muitas das vezes, nem física e nem emocional... Mas devido ao medo da mudança, o medo do que os outros vão dizer, o medo de não estar agindo certo... faz com que se perpetue casamentos que já não crescem, não trazem motivação ou ligação razoável à sua continuação...

 

Então, meu questionamento, hoje, é exatamente nesse aspecto: até que ponto duas pessoas devem viver juntas? até que a morte os separe? Onde existe verdade, e amor, nesse pensamento que, muitas das vezes, muito mais destrói do que constrói pontes de harmonia, alegria, paz?

 

Existe um entendimento religioso que pega um ponto da bíblia para justificar a união de duas pessoas, acima de aspectos de boa convivência, harmonia, amor, paz... Duas pessoas podem decidir viver juntas, mas não podem decidir que já não dá mais, porque vem um entendimento religioso que diz que elas devem viver até que a morte os separe, mesmo que em vida estejam a se odiar? Tem lógica?

 

Pois se os pais, que geram os filhos e criam suas famílias, tem que soltar suas crias, para que elas sigam suas vidas, suas histórias, seus caminhos, e não podem e não devem segurar, quanto mais duas pessoas estranhas, que se conheceram em algum tempo na vida, não poderiam se separar, se assim fosse da vontade deles? Porque outras pessoas tem que decidir isso? Ou mesmo julgar, e dizer que é certo, ou errado? 

 

Eu vivi dois casamentos. Foram bons enquanto duraram. Eu não fui a que decidiu ir embora, desistir, mas com certeza meu envolvimento com meu trabalho, comigo mesma, com meu jeito de ser, fez com que eles, que tinham outra mentalidade, não quisessem viver o que eu estava vivendo. E foram embora. E criaram outra vida, diferente da minha. E eu continuei trabalhando, estudando, crescendo intelectualmente, me libertando das amarras da dependência marital, machista, paternalista.

 

Eu não fiz direito aos 35 anos porque meu então primeiro marido não deixou! Pode?

Sem contar que se eu tivesse obedecido a ele, não teria feito a faculdade de Letras. Ou seja, tem alguns relacionamentos que não podem prosperar, e vamos continuar investindo? Quem perde? Eu penso que se algo não está bom, se a liga não existe mais, se não há mais envolvimento físico e emocional, o melhor que se tem a fazer é conversar, e cada um seguir sua própria vida, sonhos, projetos, motivações...

 

Então, não me venham dizer que é da vontade de Deus que duas pessoas que não se sentem mais ligadas espiritualmente, sejam obrigadas a viver juntas, até que a morte venha, e os separe! Nem a pal, porque esse pensamento é descabido de sabedoria, lógica, senso de realidade, senso de liberdade de crescimento espiritual, que cada pessoa tem, ou deveria ter...

 

Porque as separações acontecem porque elas precisam acontecer. Faz parte das nossas necessidades de viver novas histórias, nossas experiências, novos relacionamentos. E se o casal resolve se separar, mas se tiver discernimento para não se tornarem inimigos, isso pode ser muito mais positivo para os filhos que foram gerados. Porque a morte vem, e separa, e a vida trás novos motivos, e não podemos ficar parados, por medo de enfrentar os desafios que temos pela frente.

 

Ser feliz é uma construção, e se você estiver vivendo uma vida sem graça, sem algo que te faça querer levantar, com mais disposição e alegria, a cada manhã, se seu casamento já virou um purgatório, melhor cada um seguir sua própria vida, oportunizando o direito que cada um de nós tem de escrever a própria história.

 

Liberdade tem um preço. E uma das coisas é enfrentar os medos, as limitações, as proibições das convenções humanas, os desafios que podem trazer novas oportunidades de alcançar a tão sonhada feliciade, que todos buscamos. 

 

Bom dia! E que Deus sempre nos abençoe com muita luz, discernimento, sabedoria! Amém!