DIA DAS MÃES
Escrevi praticamente sobre todas as datas importantes, mas descobri que, especificamente, nunca o fizera sobre o Dia das Mães. Não é porque todo mundo sempre escreve alguma coisa a respeito, tenho alguns textos sobre Natal, Ano Novo e Páscoa. E não é desconsideração, já que tenho muitos escritos sobre minha mãe. Bom, talvez já tenha redigido alguma coisa, mas não consegui localizar. Trata-se de uma das datas mais significativas, notadamente aqui no Brasil, tantas são as famílias sustentadas pelo esforço heroico da mulher trabalhadora, dona de casa e mãe de muitos filhos, que a veneram, com toda a justiça. Enquanto alguns pais dão no pé, a mãe permanece como a leoa guerreira, exceto nos casos de psicopatia ou drogas além da conta. Para o filho, tanto faz se a mãe é dondoca ou proletária de arrabalde. Ninguém escolhe a família em que nasce. O afeto não decorre de circunstâncias econômicas ou sociais. Ao menos jamais deveria. As dificuldades da vida de cada um podem eventualmente aumentar ou mutilar o sentimento de gratidão, mas não o amor. E quanto a manifestações de sentimento, é importante também dizer que variam muito de indivíduo a indivíduo e que nem sempre o que se derrama em gestos ou palavras tem mais amor, dedicação e respeito. Há diferentes estilos de família, o francês, o norte-americano, o alemão, o italiano, o judeu, o árabe, sendo que uns são mais, outros menos calorosos e apegados no modo de ser. Por estas bandas, geralmente as pessoas são mais de beijos, abraços, carícias, palavras ternas, mas é apenas um jeito existencial ou de cultura. A grande verdade, no entanto, é que a data nos remete a recordações felizes de infância, a tempos de aconchego e proteção em nossos primeiros passos, quando o mundo complicado dos adultos era coisa ainda muito distante. Minha querida mãe portuguesa Maria do Carmo faleceu numa noite muito fria de 18 de julho de 2012, mas é uma presença constante. Não necessitaria de dia comemorativo para ser lembrada pelos filhos, parentes e amigos. Mas nunca deixei de assinalar a importância do evento, especialmente depois que partiu, sempre muito lúcida, aos 87 anos, legando-nos seu exemplo de principal referência familiar. E de congraçamento. Todos tiraram proveito. Nunca foi de muitas atenções afetuosas ou de carícias; seguidamente individualista, na dela, mas sempre luziu como amiga e exemplar aliada nos piores momentos. Do seu jeito. É preciso sempre lembrar dos apertos por que passou. Criticar é fácil, seremos também criticados por irmãos, filhos e netos, à míngua, talvez, de uma correta autocrítica. Coisas desta travessia existencial. Era a super sincera. Por A ou por B, acabei me tornando um filho relativamente independente, bastante rebelde e preocupante, mas, só para dar um pálido exemplo, depois de maduro, gostava de ouvir suas opiniões sobre manifestações públicas ou artigos que escrevia. Mulher inteligente, que lia muito, intuitiva e sempre atualizada, servia-me seguidamente como termômetro para voos intelectuais ou empreitadas, logo ela que nem Faculdade pôde cumprir, na condição de companheira do esposo médico a desbravar o interior do Estado e de suas seis gestações, com cinco filhos, uma das filhas excepcional, também já falecida. Cada um tem uma história e um sentimento forte com relação àquela que o gerou, nutriu e educou, passando ou não por necessidades e apertos. O importante é ver a cara da família hoje e as recordações que cultiva. Tudo o mais é detalhe.