O QUE SIGNIFICA BEM VIVER?

A vida é feita de fases, dependendo sempre da faixa etária e da intensidade das vivências pessoais. Houve um tempo em que desejava abraçar o mundo, hoje seria melhor que o mundo me abraçasse. Ademais, conta o jeito de ser de cada um. O jeito de ser aos vinte, trinta anos, jamais será o jeito de ser aos sessenta, setenta ou mais. Seja como for, sempre achei interessante viver regularmente no meu quadrado. Há os que não podem parar quietos, têm o bicho carpinteiro no corpo, precisam constantemente inventar coisas, sair de casa, viajar não importa pra onde e em qualquer oportunidade. Existem também os que não sabem se vão ou se ficam, e mesmo sofrem. Hoje em dia, confesso, fico muito contente no meu canto, levando a vida que imaginei quando parei de trabalhar: viagens eventuais - aquelas desejadas - Gramado, praia no verão e muitos filmes, seriados, internet, jornais, livros, vinho tinto, comida boa e variada, filhos, netos, mulher, família, amigos, cachorrinhos, pequenas compras em bolichos ou na feirinha perto de casa. Não com muita frequência, restaurantes ou bares. Não queiram me empurrar uma viagem para o Oriente, por exemplo. Meu grande sonho é curtir família e desfrutar da companhia eventual dos poucos amigos. Nada de grandes façanhas ou de aventuras rocambolescas. Isto não significa inação ou conformismo. E, também, nenhuma crítica a modos de ser diferenciados. Não me forcem a uma inscrição em academia de ginástica. Até cogitei de aulas de dança, coisa que me agradaria, teoricamente, mas não quero compromisso. Não pretendo diminuir cigarro, bebida, nem a carne, os ovos fritos, o pão d'água com manteiga sem sal e o leite gordo gelado. Muito menos o sagrado mocotó. Por enquanto, me sinto normal, disposto: o amanha ainda não aconteceu. Sei bem que o que é meu está guardado. Nesta encarnação, acho que fiz o que gostava e necessitava na hora certa, meu tempo agora tem uma percentagem mais expressiva de contemplação e intimismo; apenas eventualmente uma extravagância, porque ninguém é de ferro. Claro que falhei e erro muito, mas é assim mesmo. Longe de mim criticar quem vive ou pensa diferente. Há muito espaço para que se tente o caminho da paz individual e do bem-estar a que todos aspiram. Existem outras pequenas coisas deliciosas como o Grêmio, mesmo quando não vai bem, a Copa, uma nova viagem, uma festa, um prato especial a saborear, o projeto de novos textos para publicações virtuais, um belo filme ou os eventos familiares. Finalmente, a esperança de um Brasil melhor. A geração que um dia prometeu - a minha -, infelizmente, perdeu-se pela linha de fundo, ainda que tenha dado certa contribuição. Tempos complicados. Já almejei bem mais, mas não havia ainda descoberto o que é verdadeiramente bom.