SOMOS UM LENHADOR DE LATA, OU SÓ QUEREMOS TER CORAÇÂO?

Valéria Gurgel

Faço aqui um breve recorte de uma das cenas mais marcantes em “O Mágico de OZ”. Filme do Escritor e Cineasta Lyman Frank Baum. “O lenhador de lata”, um dos personagens dessa dramaturgia, de um dos livros mais famosos da literatura infantil norte americana, interpretado por Nick Chopper. Ele, não possuía um coração.

 

Ele tinha plena consciência disso e da falta que faz esse coração. Dos riscos de ser falho por não possuir esse órgão, que para ele, era tão promissor dos sentimentos nobres. Por isso, tinha um grande sonho, de um dia poder possuir esse tal coração.

 

Seu maior medo era por não possuir esse coração, não possuir sentimentos. Como consequência disso, magoar, ferir as pessoas, humilhar, agredir, não desenvolver empatia. Ser cruel, injusto, insensível.

 

- “Mas, vocês, que possuem um coração, são incapazes de cometer essas atrocidades porque possuem esse sinalizador, como um termômetro que acusa quando as emoções se tornam frias, insensíveis, inumanas. - Afirmava ele. - Eu tomo muito cuidado para não cometer essas injustiças, porque já sei que não o possuo”!

 

Isso era o que ele, o lenhador de lata acreditava. Esse ser mais humanizado que nunca, desperto, consciente, muito mais do que podemos imaginar! Como ele tinha a responsabilidade e plena consciência de suas possíveis falhas e grandes probabilidades de errar em suas atitudes para com os outros, por não possuir um coração!

 

Esse cuidado, essa atenção era o seu verdadeiro órgão sensitivo da consciência, o despertar das virtudes em pleno e total exercício, pulsando a todo vapor.

O que nem sempre acontece com tantos de nós que dizemos ser humanos e não de lata, por possuirmos um coração! Mas, será que esse coração está mesmo pulsando no ritmo e no compasso da justa emoção?

 

Aproveito essa reflexão para retratar um fato mais comentado nas redes sociais e demais meios de comunicação nestes últimos dias.

Um humorista contratado pela equipe do evento, para ocupar o palco mais badalado de uma cerimônia mais esperada do ano, O Oscar. E usa de um humor amargo, sem graça nenhuma, com gosto de sarcasmo apimentado de discriminação, simplesmente para arrancar gargalhadas da plateia a partir de um constrangimento da vítima, portadora de uma enfermidade!

 

Por outro lado, o ator famoso Will Smith, candidato a levar o prêmio, esposo da vítima, reage abruptamente, tomado de impulso e ira, em defesa da esposa.

Caberia a nós julgarmos as duas atitudes? Do humorista? Do ator?

 

Certamente não veríamos nesta cena da vida real, nenhum personagem, aparentemente feito de lata, sem possuir um coração, porém, pleno de consciência e responsabilidade quanto ao temor de ferir, de magoar, de ofender, de ser cruel ou injusto com o seu semelhante! E sim, dois seres,  "humanos", que certamente possuem esse órgão pulsando no peito, mas, descompassados e completamente fora do controle da emoção, onde a razão jamais seria convidada a estar presente ali.

 

É obvio que, sendo humanos, não deveríamos avançar em um bicho feroz porque ele nos atacou!

Mas, quem de nós nunca disse algo impensado, debochado, sem graça, que possa ter ferido, ofendido, magoado, invadido a privacidade, o sentimento, causando constrangimento, discriminação a alguém?

 

E quem de nós não poderia perder o controle diante de provocações ardilosas e até vir a reagir com violência a uma situação parecida?

 

Cabe a nós percebermos que lapidar as virtudes e o auto controle é exercício diário! Pois nunca sabemos quando as circunstâncias nos colocam à prova!

 

Diante esses questionamentos, o que nos resta é fortalecermos e ampliarmos o conhecimento através da filosofia que nos impulsiona às reflexões diárias e o despertar da consciência.

Para aprendermos analisar sem julgamentos, os dois lados das questões humanas.

Todo esse lamentável ocorrido, das duas situações expostas, está sendo uma grande oportunidade de crescermos, e graças a elas, evoluirmos e não cairmos em situações parecidas!

*Inspirado em meus estudos com a filósofa e professora Lúcia Helena Galvão de Nova Acrópole - 

Escola filosófica

 

Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 29/03/2022
Reeditado em 30/03/2022
Código do texto: T7483948
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.