CONCLAMAÇÃO AOS POETAS
Ei você, poeta do século XXI, quem quer que seja, urbano ou rural, do cerrado ou pantaneiro, analfabeto ou letrado, brasileiro enfim, que vale tanto como norte-americano ou europeu: se pretende arrancar das musas profundos suspiros, não procure letras fora do torrão natal; usa tua própria língua. Tua nobre língua materna!
Por enorme que seja teu espírito, por alto que voem teus pensamentos, quê não poderás dizer com o idioma de Graciliano e Rui Barbosa?
Porque, se quer falar de amor e ternura, do futuro e de outrora, onde encontrarás expressões mais suaves e regaladas, mais brincalhona e festiva, as mais lindas cantadas, mais infantis diminutivos, mais doce mel?
Mas se tua vontade é de guerra, quantas vozes bárbaras e cruas, de roncos e fervorosos sons para descrever o horror e o tumulto da guerra, o troar e tropel das batalhas, os estrondos e estampidos da pólvora, o áspero rodar dos tanques, o espantoso choque da carne e o aço, a terra treme, o canhão que ecoa, o furacão que passa, o sangue, a noite, o trágico silêncio da derrota e da morte ...
Agora, se tua condição pacífica, te convida para mais aprazíveis horizontes, murmulho te darão as ondas dos graciosos mananciais, guarida te dará a selva, e correrá o estilo claro como água mineral serena dos recantos elevados.
E quando, finalmente, pretendas revelar segredos da vida íntima, este idioma tão sutil, se adaptará em tuas mãos qual tecido, qual tela viva e sensível de impalpáveis nervos onde sinta a vibração de tua alma e desenhem os dedos dos anjos maravilhosas alegorias.
É o que peço: defender a honra e a soberania do linguajar Tupiniquim.
Ao saudar, cheio de gratidão e reverência, envio também um efusivo cumprimento aos nobres professores gramáticos e a quantos dedicam suas luzes e estudos ao esplendor de nossa Rainha e Senhora, a Língua Portuguesa.
(Baseado no "Discurso Acadêmico sobre a Língua" de Ricardo León, por sua pertinência no que diz respeito ao americanismo exacerbado que reina em nossa cultura em detrimento da nossa própria identidade.)
Pedro Troche Gonzalez