ENTREVERO E TENSÃO NA RODOVIA DO PARQUE

Terça de carnaval, finzinho de tarde e o regresso a Porto Alegre: eu, Andréa ao volante, mais os três cachorrinhos. Muito perto da cidade, de repente, a condutora do veículo procura o acostamento, em desespero por um cachorrinho de rua, perdido no entrevero de carros e caminhões em velocidade, possivelmente tentando cruzar a BR, o que era impossível pelas barreiras existentes entre os trechos de vai e vem de veículos. Fiquei num dilema horroroso: com três cachorrinhos no carro, tentar colocar outro qualquer seria briga e confusão geral. Mas, sensibilizado pelo profundo lamento da Andréa com a segurança do animal e o natural compadecimento pelo futuro do bichinho, tão perdido e atarantado, não conseguia vislumbrar solução. De qualquer modo, Andréa fincou pé e saí para tentar pegá-lo. Ele fugia. A seguir, um carro parou atrás do nosso e parece que a esposa do condutor tentava filmar um suposto “abandono”. Fui até eles explicar que o animal não era nosso e pedir ajuda, o que realmente tentaram fazer. O cachorrinho, assustado, fugia, depois voltava. Andréa apanhou ração dos nossos bichinhos e ofereceu ao cãozinho, que devorou com muito apetite, mas evitava aproximação. O pessoal do carro que tentara apoiar acabou partindo, pelo insucesso do resgate. Ficamos até que surgiu um rapaz, funcionário da concessionária da Rodovia, parece-me, que ficou de pedir ajuda a colegas para o mister, pois ele próprio nada conseguira. Eu disse para a mulher que não dava para salvar o mundo, tomado por loucuras de guerras e tantas atrocidades. Foi uma forte tensão de final carnavalesco e meus bichinhos já indóceis. Andréa muito abalada e eu preocupado com uma solução final feliz. Viver é complicado, sobreviver, mais ainda.